‘Odoyá, Iemanjá’: orixá tem forte ligação com navegantes na Amazônia

Iemanjá, a rainha das águas. (Reprodução/Central de Tecidos)

02 de fevereiro de 2024

17:02

Marcela Leiros – Da Agência Cenarium

MANAUS (AM) – No dia 2 de fevereiro, as margens das águas são ocupadas por devotos de Iemanjá, em uma celebração à orixá que também é referenciada como mãe dos rios. Na região amazônica, pela forte tradição da navegação, foi associada ao ambiente marítimo e tornou-se padroeira dos pescadores, sendo sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora das Candeias.

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No Brasil, a figura de Iemanjá é mais comumente relacionada ao mar, sendo referenciada como “Rainha do Mar”. O coordenador-geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), pai de santo Alberto Jorge, explica que houve uma inversão no significado da representação.

Houve essa inversão [no Brasil] de que ela é a santa do mar. Durante muito tempo, aqui em Manaus, ficou aquela coisa de que ela não aceita, que é difícil Iemanjá abrir o caminho porque ela é do mar, ela não é dos rios. Quando, na verdade, Iemanjá é dos rios. Ela é venerada no mar por todos os peixes. Os seres aquáticos são filhos de Iemanjá“, explica.

Pai Alberto Jorge. (24.ago.20 – Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

O babalorixá Ronald Ty Oxossi destacou que a imagem foi trazida ao Norte por mães e pais de santo que buscavam proteção nas viagens de barco.

Iemanjá foi associada ao ambiente marítimo devido a sua penetração na Região Norte trazida por imigrantes, tanto europeus quanto brasileiros, os primeiros pais e mães de santo que vieram para Região Norte, trouxeram a imagem de Iemanjá nos barcos para ter sua proteção ate chegar na Região Norte. Tinha-se a fé que ela colocada na proa, ou estando dentro do barco, teriam proteção contra naufrágio e outros males“, complementou.

Babalorixá Ronald Ty Oxossi. (Arquivo pessoal)
Sincretismo

Apesar do sincretismo já citado, no Amazonas, a relação de Iemanjá é mais forte com a Imaculada Conceição, também sincretizada com Oxum. Em Manaus, a celebração aos dois orixás ocorre anualmente, no mês de dezembro, no “Balaio de Oxum“.

Iemanjá, na nossa região, é mais sincretizada com a Imaculada Conceição, tanto que o Balaio da oxum, geralmente que a gente coloca, a gente fez essa situação, o sincretismo com Oxum pelo lado
do candomblé e Iemanjá pelo lado da Umbanda, que é muito forte aqui, muito mais que o candomblé
“, acrescentou Alberto Jorge.

Nossa Senhora da Conceição e Oxum são sincretizadas. (Arte: Mateus Moura)

A vice-presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade no Amazonas (Unegro Amazonas), Regina de Benguela, acrescentou que existe a variação de sincretismo não só na Amazônia, mas também em outras regiões do País. Ela reforçou o que representa a orixá.

Hoje nós comemoramos com a Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora dos Navegantes, porém tem lugares que ela é associada a Nossa Senhora da Conceição e Piedade, porque ela simboliza a mãe, ela é a força da natureza, a fertilidade, o amparo materno. E isso também podemos relacionar com a Amazônia, porque ela é a senhora das águas tranquilas, águas doces e dos rios“, concluiu.

Igreja Católica

Desde a proclamação do Concílio Vaticano II, em 1961, a Igreja Católica reconheceu o direito à coexistência de outras manifestações religiosas. Isto é, o clero de Roma entendeu que ninguém pode ser impedido de exercer o culto de sua escolha.

A declaração Dignitatis Humanae, aprovada no Concílio Vaticano II, instaurou a abordagem de que os adeptos de todas as religiões têm o verdadeiro direito natural a não serem impedidos de exercer seu credo.

O direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa humana, como a conhecemos pela palavra revelada de Deus e pela própria razão natural. Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa na organização jurídica da sociedade deve ser de tal forma reconhecido, que chegue a converter-se em direito civil”, reforça trecho da Dignitatis Humanae.

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Editado por Jefferson Ramos