Pesquisadores avaliam potenciais impactos da exploração de petróleo na Foz do Amazonas

Veleiro do Greenpeace realiza pesquisa sobre a Amazônia (Enrico Marone/Greenpeace)

02 de abril de 2024

20:04

Raisa Araújo – Da Agência Cenarium

BELÉM (PA) – O veleiro Witness do Greenpeace esteve em Belém, na semana passada, como parte da expedição Costa Amazônica Viva. O objetivo da visita foi realizar pesquisas científicas, avaliando os potenciais impactos da exploração de petróleo na região da Margem Equatorial Brasileira, uma fronteira fóssil que abrange a Foz do Rio Amazonas, próximo à Ilha do Marajó, no Pará.

Com 22 metros de comprimento, o veleiro Witness é uma embarcação do Greenpeace ideal para o apoio à pesquisa em mar e em zonas costeiras. A embarcação conta com tecnologia avançada, incluindo placas solares e turbinas eólicas, tornando-se ideal para investigações tanto em mar aberto quanto em zonas costeiras.

Para a educomunicadora social Tayna Silva, que teve a oportunidade de visitar o veleiro em Belém, pensar na Foz do Amazonas por meio de perspectivas interseccionais e participativas, envolvendo comunidades, comunicadores e curiosos pelo assunto, é uma peça fundamental em defesa da Amazônia viva. 

A educomunicadora social Tayna Silva (Reprodução/Arquivo pessoal)

“Foi incrível. Me senti inspirada a pensar mais sobre nossas comunidades e suas grandiosidades. Foi como conhecer uma parte importante da nossa história. Em momentos como esse, de crises e poucas esperanças, conhecer mais sobre a Expedição Costa Amazônica VIVA me trouxe fôlego para continuar nessa grande caminhada por justiça social e climática”, comentou, Tayna.

A bacia da Foz do Amazonas, que abrange uma grande parte da zona costeira do Pará, possui mais de 200 blocos de reserva de petróleo, que estão sob análise da indústria petrolífera.

Marcelo Laterman Lima, coordenador da Frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, ressaltou que, apesar do destaque do bloco 59, que está passando por um processo de licenciamento mais avançado pela Petrobras e está sendo amplamente discutido em termos de licenças pelo Ibama e na esfera pública, não existe consenso, nem existem dados suficientes para prever, por exemplo, os caminhos que eventuais derramamentos e vazamentos de petróleo poderiam percorrer.

“A necessidade da produção de conhecimento científico mais aprofundado em relação às correntes, à dinâmica das correntes na Bacia da Foz do Amazonas, vem de uma demanda da própria classe científica, da academia, que recebeu com muito ceticismo as modelagens de dispersão de óleo apresentadas pelas empresas petrolíferas, no caso aqui da exploração da Bacia da Foz do Amazonas. Sem ter essa base, se torna ineficaz qualquer ação de mitigação e qualquer possibilidade de exploração, já que não se sabe dos riscos potenciais efetivos para os territórios costeiros da região”, comentou Marcelo.

A Expedição Costa Amazônica Viva iniciou em Belém do Pará e percorreu as zonas marinhas, região em que os blocos de reserva de petróleo estão sendo ofertados, ou já foram concedidos para a indústria do petróleo, na Bacia da Foz do Amazonas. Após esta primeira fase, o veleiro retornou, foi até o limite com a Guiana Francesa, na região do lapoque (PA), retornando, em seguida, para Belém. 

Veleiro Witness (Enrico Marone/Greenpeace)

Para Tayna, que atua diretamente nas periferias e comunidades tradicionais da Amazônia, criando tecnologias comunitárias de defesa e proteção do território, rios, florestas, culturas e comunidades a partir da comunicação, ações como essas são fundamentais pois ajudam a pensarmos ferramentas coletivas de proteção e preservação do território.

“Eu acredito que a vinda do veleiro para o Norte do mapa faz parte desse movimento; ampliando olhares, pesquisas e saberes tradicionais sobre os territórios, através de pesquisas honestas e horizontais sobre a biodiversidade local”, finalizou.

Bacia do Amapá onde está o bloco 59

Em maio de 2023, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho (PSB-SP), recusou a concessão da licença para a exploração de petróleo na região da Foz do Amazonas. Acompanhando a recomendação da equipe técnica do órgão, que já havia se manifestado contrariamente ao licenciamento do Bloco 59,

Além de rejeitar a licença, o Ibama também solicitou que a Margem Equatorial seja alvo de uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), uma série de estudos destinados a avaliar os riscos da atividade petrolífera para o ecossistema e determinar a viabilidade ambiental da exploração naquela área. Até o momento, o Ibama ainda tem desenvolvido estudos e não tem um prazo definido para finalizar a avaliação, que se estende desde maio do ano passado.

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Editado por: Adrisa de Góes