Policiais presos em Manaus sondavam vítimas e forjavam prisões para terem ‘retorno financeiro’, diz investigação

Policiais se aproximavam de pessoas que tinham histórico, envolvimento ou passagem com a Justiça para realizarem as intimidações e se beneficiarem, segundo o MP-AM (Bruno Pacheco/CENARIUM

29 de julho de 2022

22:07

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – Os cinco policiais militares presos nesta sexta-feira, 29, na “Operação Espólio”, deflagrada pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), sondavam vítimas e forjavam prisões, em Manaus, para se beneficiarem e terem retorno financeiro, segundo as investigações.

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“[Eles] se aproximavam de pessoas que tinham um certo histórico e envolvimento ou passagem com a Justiça e, em razão disso, poderiam se sentir mais à vontade para intimidar essas pessoas e obter algum lucro financeiro”, explicou o promotor de Justiça Iranilson de Araújo Ribeiro, durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira, na sede do órgão ministerial.

O promotor Iranilson Ribeiro (à esq) ao lado do também promotor de Justiça Igor Starling Peixoto (Bruno Pacheco/CENARIUM)
Desde as 4h da manhã desta sexta-feira, a ação cumpriu mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão deferidos pela Auditoria da Justiça Militar. Além do Gaeco, as diligências foram cumpridas por equipes da Polícia Civil do Amazonas e da Diretoria de Justiça e Disciplina, além da Polícia Militar do Amazonas. Entre os cinco presos, estão um oficial e quatro soldados. O MP-AM não informou em quais guarnições os policiais são lotados.

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A Operação Espólio é decorrente de uma investigação do Gaeco envolvendo policiais militares que, em tese, teriam praticado atos de extorsão qualificada, restrição da liberdade, roubo, violação de domicílio e indícios de organização criminosa“, destacou Iranilson Ribeiro.

Policiais denunciados

De acordo com o MP-AM, as prisões só foram possíveis após as vítimas denunciarem os casos na procuradoria. Segundo o promotor de Justiça, além de procurarem pessoas envolvidas com a Justiça, os policiais buscavam informações do patrimônio financeiro das vítimas para que, a partir desse momento, pudessem extorqui-las.

A partir desse contexto, havia aquela abordagem inicial tentando sondar a situação da vítima para, a partir daí, tentar extorquir danos patrimoniais com temor de ser levada a uma eventual prisão forjada ou qualquer outra situação que pudesse complicar a esfera jurídica da vítima“, salientou Ribeiro.

Para o tenente-coronel da Polícia Militar, Elias da Silva Corrêa, o caso é pontual e os desvios de conduta dos policiais investigados não refletem a maioria da corporação.

“É importante dizer que esses desvios de conduta não refletem a maioria dos policiais militares que saem, diuturnamente, das suas residências para fazer a proteção do cidadão. São questões pontuais e que nós, do controle interno da corporação, estamos atentos e se for, eventualmente, verificada a ocorrência de desvio de conduta, elas serão, rigorosamente, apuradas e punidas, dando todas as garantias dos investigados”, salientou o tenente-coronel Elias Corrêa.