Restaurante Morada do Peixe desmata área de preservação em Manaus

Área desmatada, onde estão as nascentes do Igarapé do Gigante (Arquivo Pessoal)

15 de junho de 2024

16:06

Isabella Rabelo – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Moradores e lideranças comunitárias que defendem a preservação do Igarapé do Gigante, localizado no bairro Planalto, na Zona Oeste de Manaus, denunciaram através das redes sociais o desmatamento da área que abrange a nascente do igarapé. A ação é realizada pelo Restaurante Morada do Peixe, que visa ampliar o espaço do estabelecimento.

O Batalhão de Policiamento Ambiental (BPAmb), uma unidade especializada da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) que atua na repressão aos crimes ambientais, foi acionado por moradores da região neste sábado, 15. A instituição militar declarou que recebeu denúncias do suposto crime ambiental e afirmou que enviaria viaturas até o local: “No momento com viaturas empenhadas em ocorrência. Assim que desocupar envio para lá”.

Veja vídeo:

Tratores trabalhando na derrubada (Reprodução/Redes Sociais)

À REVISTA CENARIUM, a moradora e presidente do Conjunto Augusto Montenegro, situado nas redondezas do local, Sandra Souza, afirmou que a empresa vem realizando as derrubadas há cerca de um mês, e que chegaram a pausar as obras por conta das denúncias.

“Eles já estavam realizando esse desmatamento há algum tempo. Depois de algumas confusões com a Polícia Ambiental e com a Semmas [Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade] eles pararam por cerca de três dias, mas agora voltaram novamente”, relatou Sandra.

Desmatamento da vegetação local (Arquivo Pessoal)
Área preservada

O Igarapé do Gigante é definido como uma Área de Proteção Permanente (APP), que foram instituídas pelo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e consistem em espaços territoriais legalmente protegidos, ambientalmente frágeis e vulneráveis, podendo ser públicas ou privadas, urbanas ou rurais, cobertas ou não por vegetação nativa.

Segundo o ambientalista membro do Observatório Ambiental do Amazonas e da Associação de Movimentos Ambientais do Amazonas (AMA) Jossimar Farias, o local é um fragmento florestal urbano de grande importância para o clima da cidade de Manaus.

“A principal consequência é o clima local. Qualquer pessoa sente a diferença de temperatura em nossa cidade ao passar por áreas florestais urbanas. Além disso, há o impacto para espécies de flora e fauna. Mucuras, pássaros, insetos. É um impacto de efeito dominó que afeta todo um ecossistema, inclusive na qualidade de vida da população manauara”, explicou o especialista.

“É inacreditável a mentalidade atrasada de nossos empresários locais, que não se atentam às questões ambientais de licenças, estudos e de registros de impactos ambientais. Esse pensamento de que a mata e a floresta são empecilhos precisa ser urgentemente revistos se quisermos sobreviver no planeta”, criticou.

Legislação

Segundo o Código Florestal e a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), as Áreas de Proteção Permanente, no caso de supressão, se encontram protegidas pela exigência de prévia e válida autorização do órgão ambiental competente, independentemente do seu bioma, localização, tipologia ou estado de conservação (primária ou secundária).

CENARIUM solicitou nota do estabelecimento para comentar as ações de desmatamento em área de preservação e aguarda retorno.

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Editado por Jadson Lima