Ribeirinhos dizem que mortandade de peixes deixou água imprópria para consumo no AM

Pescador na região da RDS do Lago do Piranha (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

30 de setembro de 2023

21:09

Adrisa De Góes – Da Agência Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – Moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Lago do Piranha, no rio Paranã Campinas, localizado no município de Manacapuru (distante 68 quilômetros de Manaus), afirmam que a mortandade de peixes causada pela seca dos rios deixou a água que abastece a comunidade imprópria para consumo. Na última terça-feira, 26, várias espécies de peixes mortos emergiram à beira do lago, devido a diminuição do volume da água e, por consequência, do nível do oxigênio.

À AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA, o presidente da comunidade Braga, Noé Marques de Souza, disse que a única fonte de abastecimento de água na região é o Lago do Piranha e que comunitários têm sofrido os impactos da morte de centenas de peixes. Apesar de receber tratamento com produtos químicos, a água ainda permanece com odor fétido.

“Ainda que a gente pegasse a água do lago, abastecesse a caixa d’água e fizesse o tratamento com sulfato e cloro, ainda ficava com cheiro e gosto ruim, de coisa podre, mas a gente tinha que usar, era o jeito, não tinha de onde tirar. A gente pediu ajuda da prefeitura, que trouxe cestas básicas e água portável para a comunidade e é o que ainda está nos mantendo”, afirmou o líder comunitário.

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Comunidade do Braga, localizada na região da RDS do Lago do Piranha (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Ainda de acordo com o presidente da comunidade do Braga, as pessoas da localidade utilizam a água do lago para beber, cozinhar e tomar banho, além de outros serviços domésticos. Ele explica que, por necessidade, a água continuou a ser consumida após a mortandade de peixes, o que causou em problemas de saúde aos comunitários. “Algumas pessoas da região, que utilizam desse lago, tiveram dor de estômago e diarreia”, disse.

Seca extrema estava prevista

Os moradores já previam a estiagem severa e prepararam um projeto de enfrentamento, mas a proposta foi reprovada pelo Fundo de Promoção Social (FSP) do Governo do Amazonas. A ideia era garantir recursos para compra de botes de alumínio, para auxílio na logística de escoamento do pescado, principal fonte de economia da comunidade.

“Foi uma batalha muito grande pra gente para gente correr atrás para organizar a documentação da comunidade. Esse projeto era para o FPS, do governo, que dava fundos perdidos para a comunidade. Na carta proposta nós pedíamos barco de alumínio, porque quando o lago grande seca, ele só passa bote de alumínio (…) era pra conduzir o peixe, porque a gente já sabia que a seca ia ser grande e sabia que o peixe ia morrer”, explicou Noé Marques de Souza.

Peixes mortos pela seca do Lago do Piranha (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Para o líder comunitário, o pescado da região seria melhor aproveitado com o apoio de uma bote de alumínio. A comunidade vive da pesca e, no período da seca, ela fica isolada das demais localidades de Manacapuru.

Editado por Jefferson Ramos