Romance busca a ‘fonte da juventude’ escondida na Amazônia

A obra 'A Ascenção de Alice' é o segundo trabalho literário da mineira Sônia Gandra (Reprodução/Divulgação)

11 de abril de 2023

19:04

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – Uma descoberta que pode levar à “cura” do envelhecimento e a superação das dores femininas diante do etarismo presente e pulsante na sociedade. Essa é a fórmula de “A Ascenção de Alice” (Ed.Independente, 284 pág.), da escritora mineira Sônia Gandra. O livro apresenta um diálogo contemporâneo, eivado de dilemas psicossociais, onde a luta por espaço profissional, em uma sociedade competitiva, a afirmação da beleza, diante do tempo, e as pressões internas motivadas pelo “sim ou não” à maternidade se desdobram em uma jornada à Amazônia.

Em entrevista à AGÊNCIA AMAZÔNIA, a mineira, de Belo Horizonte, Sônia Gandra, desnuda um pouco sobre o sentido de “A Ascenção de Alice”. Em sua fala, ela explica o porquê de abordar temas contidos nas páginas de seu segundo livro. “Ao tratar assuntos sobre envelhecimento e luta contra o machismo, abordo enfoques atuais e relevantes para o público feminino. Ainda existe muita diferença entre salários. Mulheres, mesmo quando bem preparadas, com especialização e doutorado, dificilmente, ganham salários iguais aos de seus colegas homens”, criticou.

A mineira Sônia Gandra é publicitária e pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação (Reprodução/Divulgação)

Sônia Gandra continua o relato que, segundo ela, está muito presente na sociedade brasileira e faz parte das páginas do livro. “Esta é uma experiência que vivenciei nos mais de 34 anos no serviço público. Não é fantasia, é real. As mulheres ganham menos e têm poucas oportunidades de alcançar os cargos de direção. Esta premissa está presente na minha obra e retrata a realidade, infelizmente”, lamentou.

Etarismo

Ainda no campo dos questionamentos, Gandra aborda um tema que é correlato à agenda “mulher x mercado de trabalho”, o conceito ou preconceito de idade e beleza. “O etarismo, é outro assunto muito presente no dia a dia do público feminino. Existem, hoje, muitos produtos e procedimentos prometendo juventude prolongada. Alguns funcionam até certo ponto. Eu mesma uso alguns. Não é ruim querer estar de bem com o espelho. A questão é: até onde estamos dispostas a ir para ficarmos com aparência jovem?”, questionou.

Autoexemplo de suas criações, Sônia Gandra diz que não se contamina mais com as fórmulas do rejuvenescimento que, segundo ela, nada mais são que marketing de mercado. “Aos 60 anos, busco saúde, mais que tudo, e não me submeto a procedimentos invasivos e dolorosos. Saber envelhecer é a chave que muitas mulheres maduras estão descobrindo. Exemplo disso é o número crescente de mulheres que deixaram de pintar os fios brancos dos cabelos e passaram a exibir, sem constrangimento, a cabeleira grisalha. Isso é uma tremenda vitória das mulheres sobre o tempo”, comemorou.

Imortalidade

O livro de Sônia Gandra traz uma crítica às formulas mágicas da indústria de cosméticos (Reprodução/RaízesTransporte)

Abordada sobre até que ponto escritores, como Oscar Wilde, influenciaram sua obra, ela respondeu: “É inevitável lembrar de obras que abordam o mesmo tema, como “O Retrato de Dorian Grey”, de Oscar Wilde, embora não tenha me inspirado nessa ou outra obra para compor meu romance. Minha história é ‘tupiniquim’, totalmente forjada nos desejos das brasileiras de estarem sempre jovens e belas. Nós, brasileiras, somos vaidosas e gostamos de receber elogios, principalmente, os que nos rejuvenescem”, destacou.

Amazônia

Na trama, a personagem Alice embarca em uma viagem à Amazônia e descobre uma planta com alto poder de rejuvenescimento. Indagada sobre o motivo de ambientar a obra na Amazônia, ela respondeu: “Num ecossistema tão rico e poderoso, com tanto ainda a ser descoberto, é natural para um escritor forjar novas aventuras. A maior floresta tropical do mundo é o cenário ideal para milhares de possibilidades e aventuras. Até uma cidade perdida, Ratanabá, dizem existir por lá. Com certeza, vou me inspirar nessa descoberta para outras histórias”, adiantou.

A mítica e mística Floresta Amazônica serve de cenário para a trama de ‘A Ascenção de Alice’ (Reprodução/André Dib)

A mineira acrescentou: “Isso, sem falar na rica cultura indígena, pouco conhecida e explorada na moderna literatura brasileira, e as cidades ribeirinhas com seus costumes e folclore. Eu acredito no enorme potencial que existe na floresta, mas temo pela maneira que pode acontecer. O extrativismo descontrolado causa danos irreparáveis e um desmatamento lamentável. Nas minhas histórias, posso indicar outras formas de se explorar e preservar a floresta e, ao mesmo tempo, alertar para o que pode acontecer se ela deixar de existir. Isso está ao meu alcance, é para sussurrar estas possibilidades que uma escritora trabalha”, resumiu.

Sinopse

Na história, Alice é uma jovem engenheira química que, em busca de reconhecimento profissional, embarca em uma missão pela Amazônia. Lá, encontra uma planta com extraordinário poder de restauração celular, um segredo guardado a sete chaves por povos indígenas. A personagem resolve, então, levar a descoberta à indústria de cosméticos, só não esperava que o produto causasse um inesperado efeito colateral: a paralisação total do envelhecimento. É aí que vê os anos passarem e precisa lidar com a perda de amigos e familiares.

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