Romance cria ambiente fictício na Amazônia e aborda fome, exclusão social, intolerância e democracia

Romance de Andre L Braga concorre ao 7º Prêmio Kindle de Literatura (Reprodução/Divulgação)

23 de dezembro de 2022

13:12

Mencius Melo – Da Agência Amazônia

MANAUS – Chega ao mercado editorial o romance “Onde Pousam Os Urubus”, do escritor Andre L Braga, e que concorre ao 7º Prêmio Kindle de Literatura. A obra é o sexto romance do escritor nascido em Americana, interior de São Paulo, e que atualmente residente na Holanda.

O livro, publicado pela editora Independente, está a venda no formato e-book no site Amazon e traz em suas páginas um romance ambientado na miséria de “NovaAmazônia”, um país fictício encravado na Amazônia brasileira.

Miséria, fome e luta política em uma região que é palco dos dramas ambientais brasileiros e mundiais: a Amazônia (Reprodução/Divulgação)

Em entrevista exclusiva para a AGÊNCIA AMAZÔNIA, Andre comentou sobre a obra. “A ideia de ambientar o livro em “NovaAmazônia”, uma nação fictícia ao Norte do Brasil, deve-se a uma combinação de fatores. Primeiro, foi uma questão de geografia. A história pedia uma enorme ilha fluvial, com 800 quilômetros quadrados de área e abrigando 2 milhões de habitantes”, explicou.

Com a necessidade de alocar a trama, o escritor observou as dimensões. “Além da imensa e fluviomarítima Marajó, a região abriga diversas ilhas fluviais, como Mosqueiro, Cotijuba e Combu, também no Pará; Guarajá-Mirim, em Rondônia; e o extenso Parque Nacional das Anavilhanas, no Amazonas. É o cenário perfeito para abrigar a fictícia Pouso Alegre”, detalhou Braga. “Pouso Alegre” é a cidade onde vivem os catadores de lixo do fictício País e a luta política para conquistá-la se estende à conquista do país “NovaAmazônia”.

Mapa da fome

De acordo com Andre L Braga abordar fome e miséria em sua nova obra, é um exercício de observação. “Uma combinação de fatores externos, associados a políticas públicas equivocadas, como o esvaziamento dos estoques reguladores do governo, trouxe o Brasil de volta ao mapa da fome. A notícia, em si, é chocante, mas dados, números e estatísticas não conseguem traduzir o horror por trás disso tudo, uma fotografia. Foi exatamente isso, uma fotografia, que despertou a urgência em tratar do tema numa obra de ficção“, ponderou.

“No ano passado, me deparei com o registro fotográfico de pessoas disputando restos de comida, na caçamba de um caminhão de lixo. Aquela imagem mexeu comigo. Havia algo, dentro de mim, que berrava: Você precisa escrever sobre isso! Você precisa levar esse tema aos seus leitores e as suas leitoras! Acredito que a literatura de entretenimento pode, sim, despertar quem a lê, quem a consome, à reflexão sobre temas da atualidade”, avaliou Braga.

O romance “1984” do inglês George Orwell, que inspirou a criação do “Big Brother”, é uma das inspirações de Andre L Braga para o seu “Onde Pousam Os Urubus” (Reprodução/Internet)

Inspiração

Permeado por drama social, político e psicológico, “Onde Pousam Os Urubus” transita entre a fome no capitalismo (“Ilha das Flores“) e a repressão da liberdade no autoritarismo (“1984“). O primeiro é um documentário brasileiro aclamado de Jorge Furtado e o outro é o mundialmente conhecido romance George Orwell.

“De ‘Ilha das Flores’, busquei a metáfora – nem tão metafórica, na verdade – da ilha, do local distante, de difícil acesso, para onde se despacha tudo aquilo que a sociedade burguesa não quer ver por perto”, comentou Andre.

Ele explica que na cidade de Pouso Alegre, assim como na ‘Ilha das Flores‘, famílias disputam o que comer com ratos e urubus, caçando restos de alimentos em meio ao lixo que vem da cidade grande. Já de ‘1984‘, segundo Braga, vem a falsa impressão de liberdade que paira sobre a capital, e o controle da verdade.

“Em ‘Novamazônia’, tal qual nas páginas de “1984”, a imprensa é controlada pelo Estado, e notícias são manipuladas, em favor dos interesses do Partido”, teorizou.

Detalhes amazônicos

Questionado sobre os detalhes “amazônicos” na obra de paulista radicado na Europa, Andre L Braga respondeu: “O trabalho de quem escreve ficção vai muito além da escrita em si. É preciso pesquisar, é preciso conversar com quem já viveu determinada situações, é preciso manter olhos e ouvidos atentos, o tempo todo, em busca de inspiração e de informação. Numa ordem de relevância, acredito que esse trabalho de pesquisa vale as vivências pessoais de quem escreve”, analisou.