Saiba o que ganha a cultura amazonense com entrada de Isabelle no BBB24

Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do Boi Garantido (Arte: Mateus Moura/Rede Cenarium Amazônia)

08 de janeiro de 2024

15:01

João Felipe Serrão – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – A cunhã-poranga do Boi-Bumbá Garantido – o boi vermelho do Festival Folclórico de Parintins – Isabelle Nogueira, 30 anos, disputa uma vaga para entrar na edição de 2024 do Big Brother Brasil (BBB). Para especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM, a cultura nortista, em especial a do Amazonas, se beneficia caso a participação no reality show mais famoso do País seja confirmada. Entre os principais ganhos estão a visibilidade, representatividade da cultura indígena e quebra de estereótipos sobre a Amazônia.

O antropólogo e doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Israel Pinheiro avalia que a participação de Isabelle no BBB pode contribuir para a visibilidade do Estado e de sua cultura. Para ele, a presença de uma pessoa do Amazonas traz um importante aspecto que se relaciona à representatividade, principalmente dos povos indígenas do Norte.

Mas Israel também afirma que é preciso ter cuidado, e destaca que essa visibilidade depende da narrativa construída no programa. “A gente tem também uma potência, tanto da internet quanto das comunidades locais, que podem utilizar isso como um processo de construção de discursos alternativos em relação a essa mídia hegemônica, afirma Israel.

O antropólogo pontuou que a entrada de Isabelle no BBB pode representar oportunidade para o País pensar sobre os povos indígenas, sobre a própria Amazônia e a percepção da região para pessoas de fora, que ainda é vista com uma aura mística, de um local imaginário e exótico.


Amazonense, Isabelle Nogueira disputa, por votação popular, vaga no BBB24 (Foto: Divulgação / Globo)
Estereótipo

Agenor Vasconcelos é filósofo e doutor em Antropologia Social pela Ufam. Ele considera positiva a participação da cunhã-poranga do Garantido, mas também se preocupa com o risco de reforçar estereótipos da cultura indígena e das representações associadas ao Amazonas. Mesmo com essas considerações, ele destaca que a visibilidade é importante.

A gente precisa se engajar para dar visibilidade ao Estado, e Parintins continua nessa liderança. Espero que dê tudo certo para ela e que ela consiga entrar, porque primeiro a gente ocupa os espaços e depois a gente organiza”, finalizou Agenor.

Percepção

Doutora em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora da Ufam, no campus de Parintins, interior do Amazonas, Soriany Neves, avalia que a participação de Isabelle Nogueira vai projetar o Amazonas e o Festival de Parintins no cenário nacional, levando em conta que este é o local de fala da dançarina, que participa ativamente da manifestação popular no Estado.

A pesquisadora em folkcomunicação (área que estuda o folclore nos meios de comunicação) e processos midiáticos na cultura popular pontua que a participante vai dialogar com o público sobre a manifestação da cultura do boi-bumbá a partir de alguém que vive a cultura. “É muito diferente de quando é um artista de fora explicando sobre uma percepção de Amazônia, sob um óculos externo. Isso pode ajudar a popularizar mais a cultura amazônica”, disse a pesquisadora.

Para o antropólogo da Ufam Raimundo Nonato Pereira da Silva, o festival folclórico já rompeu a fronteira regional e passou a ser um evento de status nacional. Para ele, a presença de uma “brincante” potencializa a imagem do festival para um público mais abrangente. “Um fator positivo para o Festival e para a cultura nortista, é que a participação da ‘brincante’ oportunizará que os telespectadores do reality se inteire sobre os referenciais amazônicos, que não estão desassociados da biodiversidade“, destaca.

Festival Folclórico é realizado no mês de junho na ilha de Parintins, a 369 quilômetros de Manaus (Yuri Pinheiro/Prefeitura de Parintins)
Rivalidade

A mobilização uniu a torcida dos bois Garantido e Caprichoso, uma das rivalidades mais icônicas do País, que, se levada para o mundo do futebol, seria comparável à rixa entre Flamengo e Vasco, no Rio de Janeiro, e Corinthians e Palmeiras, em São Paulo.

Os torcedores acreditam que Isabelle poderá ajudar a divulgar o festival folclórico para o Brasil, principalmente quando for líder. A expectativa é que ela escolha o boi-bumbá como tema de sua festa. A cunhã-poranga do Boi Caprichoso, Marciele Albuquerque, é uma das que acredita que a participação da arquirrival no programa beneficiará a cultura do Amazonas. “Nossa rivalidade é na arena e a Isabelle entrando dá visibilidade para o nosso festival. Vamos votar para ter uma representante da nossa cultura e do Amazonas”, afirmou ao mobilizar seus seguidores nas redes sociais.

A cunhã-poranga do Boi Caprichoso, Marciele Albuquerque (Foto: Reprodução/Instagram)
Cunhã-poranga

A manauara Isabelle Nogueira é formada em Letras com habilitação em Espanhol e pós-graduada em Gestão Escolar e Metodologia do Ensino Superior. Mesmo com as formações, seu trabalho principal é dentro da cultura, sendo cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido. Ela ocupa a posição desde 2018. Em 2022, o Garantido lançou uma toada que homenageava a dançarina, intitulada “Isa-a-Bela”.

Confira a música

Isabelle também trabalha com influenciadora digital, acumulando, até o momento, mais de 348 mil seguidores no Instagram.

Cunhã-poranga

Cunhã-poranga é uma personagem feminina que representa a indígena, como uma forma de exaltação à mulher nativa. Segundo o Regulamento do Festival, ela expressa a força pela beleza. A aparição geralmente é uma das mais esperadas no festival, o item 9, entre os 21 avaliados pelos jurados. Nesse quesito, são avaliados elementos como a beleza, simpatia, desenvoltura e a fantasia utilizada pelas dançarinas.

Isabelle Nogueira é cunhã-poranga do Garantido desde 2018 (Foto: Tino Guimarães /Divulgação)

O Festival Folclórico de Parintins é uma festa popular que acontece anualmente na cidade de Parintins, no interior do Amazonas e é marcada pela disputa entre os bumbás Garantido e Caprichoso. O evento ganhou o título de Patrimônio Cultural do Brasil. Os bois se apresentam durante três noites de festival e os jurados julgam 21 itens, escolhendo o bumbá com a melhor apresentação para ser o vencedor. A festa mescla elementos de diferentes culturas, como a indígena, negra e ribeirinha.

Editado por Yana Lima

Revisado por Gustavo Gilona