Saiba quem é o ex-deputado preso no Pará por violência política de gênero

Wladimir Costa e Renilce Nicodemos (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)

18 de abril de 2024

16:04

Raisa de Araújo – Da Agência Cenarium

BELÉM (PA) – A Polícia Federal (PF) prendeu Wladimir Costa, ex-deputado federal conhecido como Wlad, nesta quinta-feira, 18, no Aeroporto Internacional de Belém (PA), pela prática de violência política de gênero. Ele foi abordado e preso ao desembarcar na capital paraense, sendo encaminhado ao sistema prisional do Estado.

Wladimir Costa é conhecido por se envolver em polêmicas e cometer injúrias contra jornalistas e personalidades brasileiras. Ele é investigado por crimes eleitorais e teve o mandato cassado em 2017, por unanimidade, por abuso de poder econômico e gastos ilícitos na campanha eleitoral de 2014.

De acordo com a polícia, a prisão ocorreu devido a acusações de proferir insultos e ameaças contra a deputada federal Renilce Nicodemos (MDB-PA), incluindo a divulgação de músicas e faixas ofensivas, além de incitar seus seguidores a agredi-la, caracterizando violência política contra a mulher. O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) também determinou a exclusão das postagens em redes sociais que motivaram o mandado de prisão.

Wladimir Costa foi preso pela Polícia Federal em avião (Reprodução)

Deputado federal por quatro mandatos consecutivos até 2019, Wladimir Costa foi condenado, em janeiro de 2023, a nove meses de detenção em regime inicial aberto. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) entendeu que o ex-parlamentar paraense injuriou os artistas Wagner Moura, Glória Pires, Letícia Sabatella, Orlando Morais e Sônia Braga.

Em 2017, quando era deputado pelo Solidariedade, Wladimir Costa subiu ao púlpito da Câmara dos Deputados e proferiu ataques aos artistas. Isso ocorreu porque eles ingressaram em uma campanha contra o então presidente Michel Temer (MDB), alvo de uma denúncia de corrupção apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Nos dias 11 e 12 de julho de 2017, Wladimir Costa chamou os artistas de “vagabundos” e acusou Glória Pires de receber R$ 2 milhões da Lei Rouanet sem prestação de contas. Ele também ofendeu o marido da atriz, Orlando Morais, afirmando que o cantor “nunca fez sucesso” e é sustentado pela companheira. Wagner Moura foi chamado de “ladrão” e Letícia Sabatella se tornou “Letícia Mortadela” no discurso do parlamentar.

A cientista política Karol Cavalcante comentou em suas redes sociais que, apesar do desconhecimento de muitos, a violência política contra a mulher no Brasil é tipificada como crime. “Dados do CNJ apontam que a cada 30 dias no Brasil, pelo menos 15 registros são feitos de violência política. O Brasil é um dos países mais violentos do mundo no que se refere à violência política. Somos lanternas na presença de mulheres nas casas parlamentares na América Latina, juntamente com o Paraguai”, explica.

Deputada federal Renilce Nicodemos (Reprodução/ALE-PA)
Leia também: Violência política de gênero é consequência do machismo estrutural, aponta analista

A violência política é caracterizada por “Assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher ou a sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de seu mandato eletivo”, de acordo com o Artigo 326-B da Lei 14.192.

Humilhar uma parlamentar por sua condição feminina no exercício do mandato, expondo e ridicularizando sua vida íntima, era uma prática reiterada do ex-deputado na internet. Sua prisão representa um marco para a luta das mulheres na política. A internet não é terra sem lei. E o ambiente político não pode continuar sendo um espaço tóxico para mulheres“, complementa Karol Cavalcante.

AGÊNCIA CENARIUM questionou a defesa do ex-deputado Wladimir Costa sobre as acusações, mas ainda não obteve retorno. A reportagem tenta contato com a deputada federal Renilce Nicodemos.

Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona