Violência política de gênero é consequência do machismo estrutural, aponta analista

Símbolo do feminismo. (Edição: Mateus Moura/Revista Cenarium Amazônia)

20 de novembro de 2023

16:11

João Felipe Serrão – Da Agência Amazônia

MANAUS (AM) – A baixa representatividade feminina nas instituições brasileiras reflete um problema estrutural do País, caracterizado pela violência política de gênero, conforme explicado pelo cientista político e advogado Helso Ribeiro na palestra “A violência política de gênero”, ocorrida no 2º Ciclo de Palestras de Direito Penal, promovido na Universidade Nilton Lins, em Manaus, no último sábado, 18.

violência política contra a mulher passou a ser tipificada como crime em agosto de 2021, quando foi sancionada a Lei nº 14.192. Ela é definida como a “agressão física, psicológica, econômica, simbólica ou sexual contra a mulher, com a finalidade de impedir ou restringir o acesso e exercício de funções públicas e/ou induzi-la a tomar decisões contrárias à sua vontade“.

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De acordo com Helso Ribeiro, as ocorrências são fruto de questões culturais. “A violência política de gênero é uma subespécie da violência que ocorre na sociedade e também de um machismo estrutural. Desde a educação na infância, é possível ver privilégios de garotos em detrimento de garotas. Isso só muda com uma transformação cultural”, declarou.

O analista político Helso Ribeiro (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium Amazônia)

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), desde que a norma entrou em vigor, até agosto deste ano, 124 eram monitorados em todo o País, no intuito de apurar possíveis crimes de violência contra mulheres com atuação política e buscar a responsabilização dos agressores. À AGÊNCIA AMAZÔNIA, o cientista político também explicou como essas violências ocorrem. (Veja abaixo)

Quando candidatas, a violência política de gênero pode se manifestar por meio de:

  • Interrupção frequente de fala em ambientes políticos;
  • Desqualificação das suas habilidades, fazendo com que ela não se sinta capaz para a função;
  • Desproporcionalidade no repasse do fundo partidário;
  • Desvio de recursos para as candidaturas masculinas;
  • Ameaças à candidata, por palavras, gestos ou outros meios;
  • Difamação da candidata.

Uma vez eleitas, a violência aparece quando:

  • Não recebem indicação para liderar partidos, ser relatoras de projetos importantes ou titulares em comissões;
  • São constantemente interrompidas em seus lugares de fala;
  • São excluídas de debates;
  • São julgadas pela aparência física e forma de vestir.

Helso Ribeiro foi um dos colaboradores da coletânea “Gênero, Trabalho e Lutas na Amazônia”, organizado pela pesquisadora Iraldes Caldas e pela jornalista Paula Litaiff. A pesquisadora, inclusive, coordena o Grupo de Estudos, Pesquisa e Observatório Social: Gênero e Poder (Gepos), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e fala como as questões de gênero afetam as comunidades locais, especialmente as mulheres em situações de vulnerabilidade.

A violência contra a mulher, hoje, é tida como mal do século. E a cada dia cresce essa violência. Hoje nós já temos o crime de feminicídio, desde 2015, que é o crime pelo fato de elas serem mulheres. Não é somente uma misoginia, mas é muito mais do que isso, é matar a mulher porque ela é mulher”, pontua Iraildes Caldas.

Representatividade

Nas eleições de 2022, foi registrado um crescimento de 18% na bancada feminina na Câmara Federal. Foram eleitas 91 deputadas, contra 77 em 2018. Do total de 513 parlamentares, apenas 17,7% são mulheres. No Senado, com um total de 81 cadeiras, elas perderam duas e ocuparam dez (12,3%) em 2023.

As mulheres no Brasil correspondem a 52% do total da população; ainda assim, essa existência não é refletida nos espaços políticos. “O ambiente político ainda é muito tóxico para as mulheres, que são comumente ofendidas, humilhadas, ameaçadas e desrespeitadas exclusivamente em razão da sua condição feminina”, afirma a ministra substituta Maria Claudia Bucchianeri, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Um dos caminhos apontados por Helso Ribeiro para combater o problema da violência política de gênero é a ampliação dos debates sobre o tema. “Cabe a nós abordarmos esse assunto em seminários, palestras, associação de bairros e dentro dos partidos políticos. É através do exercício pleno da nossa cidadania que podemos minimizar essa situação”, afirmou Helso.

Edição: Marcela Leiros

Revisão: Gustavo Gilona