Terceira maior cidade de Roraima atende apenas com um médico em hospital

O hospital é o único de Caracaraí, cidade a 140 quilômetros de Boa Vista (Reprodução/Redes Sociais)

21 de agosto de 2023

20:08

Winicyus Gonçalves – Da Agência Cenarium Amazônia

BOA VISTA (RR) – O Hospital Irmã Aquilina, em Caracaraí – a 140 quilômetros de Boa Vista – está há dois meses com um médico para atender o terceiro maior município do Estado de Roraima, que tem 22,2 mil habitantes. A AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA recebeu a denúncia de um funcionário da unidade, sob condição de anonimato, informando que a crise de profissionais da medicina existe a cerca de dois anos.

O denunciante mencionou que haviam cinco médicos trabalhando no hospital, três pediram demissão e outro foi transferido, restando apenas um. E, diante dessa situação, nos últimos meses, passaram a acontecer diversas intercorrências por causa da falta de médico por vários dias. “Há mais de uma semana convivemos com isso. Às vezes tem, às vezes não tem. Ontem tinha um, hoje não tem nenhum”, afirma.

Cidade tem aproximadamente 22 mil moradores (Reprodução/YouTube)

Ainda em declaração do funcionário da unidade de saúde, os pacientes que chegam ao Hospital Irmã Aquilina são orientados a procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município. No entanto, as UBSs estão atendendo por agendamento.

A preocupação dos moradores da cidade é que, sem médicos em quantidade suficiente, não haja atendimento nem mesmo de emergências. “Se tiver um acidente ou chegar algum paciente grave, vai ter que ser transferido às pressas para Boa Vista [Hospital Geral de Roraima] ou vai morrer por aqui, porque médico não tem”, explica o funcionário.

Demora

Aparecida Alves, 42, tem problemas renais, e relatou que aguardou por mais de 6 horas por atendimento médico no hospital na última quinta-feira, 18. De acordo com o sobrinho de Aparecida, Denison Gomes, ela chegou à unidade por volta das 8h da manhã, porém, só recebeu atendimento médico por volta das 15h30.

“Depois de quase 7 horas, conseguimos atendimento. Aqui, o atendimento sempre foi péssimo. A gente só vem se for em último caso e ainda demora. Isso é um absurdo e o sentimento que temos é de indignação”, disse Denison.

Além disso, o sobrinho explicou que o quadro clínico de Aparecida requer cuidados, já que ela apresenta problemas nos rins. Contudo, em razão da demora no atendimento, a preocupação era com a possibilidade da piora do quadro clínico da paciente. “Ela passou a noite de sexta com diarreia e vômito. A nossa preocupação era por causa do problema renal, até porque estava sentindo dores por estar muito tempo sentada”, explicou.

Instabilidade

A falta de atendimento médico também provoca sensação de insegurança para os outros funcionários do hospital, que são ameaçados e convivem com o medo de agressões por parte da população. Segundo o denunciante, para garantir a segurança da equipe foi necessário acionar o 2º Comando de Policiamento de Fronteira (2° CIMPFronn), da Polícia Militar de Roraima (PMRR), para que alguns policiais fossem direcionados à unidade.

“Muitos dos pacientes que buscam atendimento médico aqui no hospital ficam nervosos por conta da demora. Nós fazemos o que podemos, mas eles exigem atendimento por parte do médico e ficamos de mãos atadas. Já quase fomos agredidos, e ficamos com medo de que aconteça alguma tragédia”, complementa.

Recorrência

Essa não é a primeira vez que o Hospital Irmã Aquilina é alvo de denúncia por falta de médicos. Em 2021, a promotoria de Justiça do Ministério Público de Roraima (MPRR), em Caracaraí, havia descoberto que a unidade de saúde estava contando também com cinco médicos para cobrir todas as escalas de plantão. Desde o encerramento do contrato com a Cooperativa Brasileira de Serviços Múltiplos de Saúde (Coopebras), em fevereiro do mesmo ano, o hospital sofre com falta de profissionais nos plantões.

A cooperativa tinha contrato com o Governo de Roraima para fornecimento de plantões médicos, mas uma investigação da Polícia Civil de Roraima (PC-RR) apontou um rombo de R$ 30 milhões na Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), por meio de um esquema que fraudava plantões médicos em hospitais do Estado

À época, o Ministério Público do Estado de Roraima (MP-RR) e a Sesau chegaram a discutir acordo judicial para que os serviços fossem normalizados. O juiz Pedro Machado Gueiros homologou o contrato entre as partes para providenciar médicos ao hospital, mas não delimitou prazo para cumprimento das cláusulas.

Pelo acordo, o Estado se comprometeu “a prestar de forma adequada, eficiente e segura os serviços de urgência e emergência, com a lotação dos médicos, necessários à prestação de serviço”, diz trecho da decisão.

Respostas

CENARIUM procurou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) que, por meio de nota, disse que “está realizando processo de credenciamento de médicos para todas as unidades de Saúde do Estado”. Além disso, a pasta realiza “um dimensionamento da situação de cada município, a fim de que todos sejam atendidos conforme a necessidade existente”, finaliza.

Prefeitura de Caracaraí informou também, por nota, à CENARIUM que entrará em contato com a Sesau para averiguar a situação e propor que a unidade funcione de forma mista, ou seja, em gestão compartilhada entre o Governo de Roraima e o município.