28 de dezembro de 2023
15:12
Ana Pastana – Da Agência Amazônia
MANAUS (AM) – O vereador de Manaus, Rodrigo Guedes (Podemos), despertou comentários que escancaram racismo religioso após comemorar, junto a líderes de religiões de matriz africana, a confirmação do 13º Festival Afro-Amazônico de Yemanjá – Exu Abrindo Nossos Caminhos, que ocorre a partir desta sexta-feira, 29, na Ponta Negra, na Zona Oeste da capital amazonense. Internautas afirmaram que o parlamentar “vai para o inferno” e que não pode ser considerado cristão.
Na publicação, feita em redes sociais, nessa quarta-feira, 27, Guedes afirma que é cristão, mas luta pelo direito de todos manifestarem suas crenças religiosas. “Vai ter Réveillon de Iemanjá na Ponta Negra de Manaus, sim!”, afirma. “Sou cristão católico, professo a fé cristã, mas o Estado é laico e a pluralidade de pensamentos, crenças e manifestações religiosas precisa ser respeitada e garantida, sob pena de configurar-se intolerância, preconceito e racismo estrutural!”, disse.
O post recebeu comentários preconceituosos, nos quais internautas afirmam que o parlamentar não pode ser considerado cristão por apoiar a festividade das religiões afro-brasileiras, e que a atitude do vereador é reprovada pelo cristianismo.
Réveillon Gospel
Na mesma publicação, Guedes menciona a importância das celebrações religiosas e respeito à diversidade. “Se vai ter o Réveillon Gospel, tem que ter a celebração de outras crenças também”, escreveu.
Recentemente, foi aprovada na Câmara Municipal de Manaus (CMM), a Lei 3.238, de autoria do vereador Raiff Matos (DC), que garante o “Réveillon Gospel” na cidade. Segundo o parlamentar, a iniciativa beneficia artistas locais do segmento gospel e promove a festa cristã. A lei foi sancionada pelo prefeito da capital, David Almeida (Avante), que assim como o parlamentar, também afirma ser cristão.
Intolerância e racismo
Ao contrário das festividades relacionadas às religiões de matriz africana, o Réveillon Gospel não despertou fúria de grande parte da população. Este é um exemplo de racismo religioso, que conforme definição da cartilha Terreiros em Luta, abrange violências que expressam discriminação e ódio em relação às tradições e culturas afro-brasileiras e seus praticantes.
De acordo com a jornalista e advogada, Luciana Santos, o racismo religioso, também chamado de intolerância religiosa, pode ser encontrado em discursos de ódio referente a práticas religiosas, mesmo que a vítima não seja praticante da crença em questão. “O discurso de ódio contra o vereador é em função da colaboração que ele está dando a uma festividade de uma religião que é hostilizada pelos haters”, explica.
Ela detalha ainda o motivo pelo qual os ataques à religiões de matriz africana são considerados atos de racismo. “As pessoas não conseguem entender que o Estado é laico e que o vereador está na verdade defendendo o direito de crença e culto de um segmento religioso que é vítima de racismo religioso. E eu uso racismo e não intolerância. Uso assim porque os ataques às religiões afro são fruto do racismo” disse.
Exú
O Réveillon de Yemanjá deste ano reforça a desconstrução da imagem demoníaca imposta às religiões de matriz africana. A escolha do tema busca promover a diversidade e o respeito à liberdade de crença religiosa. De acordo com a coordenação do evento, o apoio da Prefeitura de Manaus ao festejo ocorreu nos últimos momentos, somente nesta semana.
De acordo com o coordenador-geral do festival e presidente da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), Alberto Jorge Silva, as religiões de matriz africana lutam por essa desconstrução.
“Nosso maior problema em todos esses anos é a demonização que as religiões de matriz africana têm passado e nós fizemos a marcha para Exu em setembro e ficou bastante evidente que o nosso povo sente essa necessidade de trabalhar essa desconstrução da imagem demoníaca”, afirmou.
O 13º Festival Afroamazônico de Yemanjá – Exu Abrindo Nossos Caminhos ocorre entre os dias 29 e 31 de dezembro, na Praia da Ponta Negra, na Zona Oeste de Manaus. O evento é gratuito e aberto ao público.
Editado por Yana Lima