1ª Marcha para Exú em Manaus quer ressignificar imagem de orixá

Marcha para Exú em São Paulo, em agosto de 2023. (Bruno Santos/Folhapress)

23 de setembro de 2023

15:09

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – Como parte do processo de ressignificação do culto ao orixá da comunicação de religiões de matrizes africana, Manaus vai receber, no dia 30 de setembro, a 1ª Marcha para Exú, com concentração na Praça da Polícia e destino final na Praça do Congresso, ambas no Centro de Manaus, Zona Sul da cidade. Com o tema “Exú não é satanás”, a programação gratuita inicia às 14h, com saída às 15h, e tem previsão de término às 21h.

1ª Marcha para Exú em Manaus acontece no próximo sábado, dia 30 de setembro. (Divulgação)

A realização, na capital amazonense, é da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé, com organização da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama) junto às organizações e casas de axé filiadas, associações culturais, sociais, sindicais, estudantis, de folclore e carnavalescas.

O percurso da 1ª Marcha para Exú inicia na Praça da Polícia e segue pela Avenida 7 de Setembro até o cruzamento desta via com a Avenida Eduardo Ribeiro, onde ocorrerá a primeira parada do trio elétrico. Depois, segue pela Avenida Eduardo Ribeiro até o cruzamento com a Rua 24 de Maio, onde será a segunda parada. A terceira parada ocorrerá no cruzamento da Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua 10 de Julho. O trajeto, então, segue pela Avenida Eduardo Ribeiro até a Praça do Congresso. (Veja o mapa do trajeto abaixo)

Percurso da 1ª Marcha para Exú. (Arte: Mateus Moura/Revista Cenarium Amazônia)

Durante o percurso e no destino final, está previsto ocorrer manifestações de cantores, músicos, grupos
religiosos, estudantis, entre outros. Segundo a organização do evento, haverá espaço para todas as manifestações da chamada “Cultura Pé no Chão”, aqueles que não costumam se apresentar em palcos oficiais. A estimativa de público mínima é de 100 a 150 pessoas, e a máxima, 1.500 pessoas.

Ali, poderá se fazer a gira, a roda de terreiro, de capoeira, apresentação de maracatu, de maculelê, do samba, é algo que vai ficar bastante livre. Nós queremos sentir a manifestação livre da população“, explica o coordenador-geral da Aratrama e mantenedor da Associação Toy Badé, Reviossonnôn Alberto Jorge. “Nós vamos cantar macumba, ponto pra Exú, dentro dessa pegada cultural que nós vamos estar com uma identidade étnica, cultural, que será efetivamente valorizada“.

Ressignificação

Para as religiões de matriz africana, Exú é a divindade que representa o mensageiro, a circulação da ideia, a comunicação, o cuidador da segurança. Pai Alberto Jorge lembra que o orixá é habitualmente associado ao uma figura demonizada, com chifres, rabo e tridente, daí a importância de ressignificar a imagem.

Diante de uma reflexão mais profunda desse significado e ressignificado, considerou-se que o ponto mais importante seria trabalhar entre nós mesmo e, na sociedade, que essa figura não é satanás, não tem nada a ver com o demônio da cultura hebraico, cristã e muçulmana“, explica ele, pontuando que a marcha já existe no Brasil há mais de dez anos, mesmo sendo a primeira vez em Manaus.

Exú é o orixá da comunicação e da linguagem. (Olga Drebas)

O coordenador-geral da Aratrama também descartou a possibilidade da 1ª Marcha para Exú ser uma afronta à Marcha para Jesus, que leva o público evangélico para as ruas de várias cidades do País.

“Até mesmo entre nós, existem aqueles que acham que fazer uma Marcha para Exú seria uma afronta à Marcha para Jesus. Então, no debate que se estabeleceu entre nós, colocamos que existem as marchas das Margaridas, da Maconha, das Mulheres, para Zumbi, e nenhuma delas se considera uma ofensa ou uma tentativa de rivalizar com a Marcha para Jesus. A Marcha para Exú está dentro de um conceito holístico e não vemos como forma de afronta ou qualquer ofensa contra a Marcha para Jesus”, afirma ele.

Edição: Marcela Leiros
Revisão: Gustavo Gilona