41 anos de pandemia do HIV: desinformação e preconceito são os maiores adversários no combate à Aids
05 de dezembro de 2022
13:12
Ívina Garcia – Da Agência Amazônia
MANAUS – Considerada a pandemia mais letal do fim do século 20, o vírus HIV – sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana – foi detectado, em 1981, por médicos americanos e tratado como uma forma rara de pneumonia, a princípio. Com o avançar dos estudos ao longo de 41 anos, formas de tratamento e curas específicas foram desenvolvidas, porém, o preconceito e a falta de informação ainda são os maiores obstáculos.
A Aids (acquired immunodeficiency syndrome – em inglês), que pode ser desenvolvida após contrair HIV, é uma doença crônica que danifica o sistema imunológico e incapacita o organismo de se defender contra outras infecções, responsável pela morte de 650 mil pessoas apenas no ano de 2021.
O mês de dezembro foi escolhido pelo Ministério da Saúde para ser utilizado como mês de conscientização para o tratamento precoce da síndrome da imunodeficiência adquirida e de outras infecções sexualmente transmissíveis.
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As campanhas estabelecidas pela Lei nº 13.504/2017 fazem alusão ao Dia Mundial de Combate à Aids, que ocorre em 1º de dezembro. Além dos alertas de prevenção, o mês é marcado pela discussão acerca da assistência e da proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.
Os dados do Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde, apontam para maiores detecções de Aids em Estados da região Norte, em 2021. Amazonas lidera o ranking com 39,7 casos a cada 100 mil habitantes, Roraima vem logo atrás, com 29,3 casos, Amapá, com 25,1 e Pará, com 24,3, aparecem nas primeiras colocações.
Já o Rio Grande do Sul, único Estado que não faz parte do Norte na lista, aparece em 5º lugar, também com 24,3. Dos Estados no topo do ranking, Pará (32,8%), Amazonas (26,8%) e Amapá (10,6%) registraram aumento nas taxas de detecção de Aids nos últimos dez anos.
Preconceito
Manaus, capital do Amazonas, aparece no topo, com a taxa de detecção maior do que todo o Estado, de 64,6 casos a cada 100 mil habitantes, em 2021. O número é quase quatro vezes a taxa do Brasil, de 16,5 a cada 100 mil habitantes.
Uma pesquisa do UNAIDS, programa das Nações Unidas de combate à Aids, mostra que mais de 50% das pessoas que vivem com HIV em Manaus sofreram preconceito por seu estado sorológico, em 2020.
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Pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocas foi a forma de preconceito mais experienciada pelos participantes da pesquisa, cerca de 55% deles relataram ter passado por essa situação.
Mesmo entre os familiares, a discriminação existe, conforme os entrevistados, 42,5% sofreram com comentários de membros da família, incluindo assédios verbais (23,9%), agressões físicas (5,6%) e até demissões por ser soropositivo para o HIV (22,6%).
Todo esse preconceito em volta de pessoas soropositivas acarreta numa péssima qualidade de vida e leva até o isolamento. A falta de informação torna as pessoas mais suscetíveis a desenvolver transtornos psicológicos.
Vanessa Campos, da Rede Nacional de pessoas vivendo com HIV e vivendo com Aids, acredita que a sociedade deve se movimentar para acolher as pessoas que vivem com a doença. “Que com esses dados possamos juntos buscar caminhos para combater de uma forma mais efetiva todo o estigma e a discriminação que vêm se perpetuando nesses 40 anos de Aids no Brasil”, diz.
Conforme o estudo, 35% dos participantes se isolaram da própria família ou amigos e optaram por não fazer sexo por serem soropositivos. Das pessoas entrevistadas, 20,9% decidiram não participar de eventos sociais; 22,1% disseram que pararam de se candidatar a vagas de emprego; 20,7% deixaram de procurar apoio social; e 18% decidiram não procurar atendimento de saúde.
O tratamento do HIV é baseado na supressão da carga viral, que torna o HIV indetectável e intransmissível, o que garante segurança na vida da pessoa que vive com HIV, bem como em seus parceiros sexuais.
De acordo com três estudos realizados entre 2007 e 2016, a não-transmissão sexual é alcançada quando uma pessoa vivendo com HIV alcança a carga viral indetectável ao longo de seis meses, então o vírus passa a não ser transmitido, pois há baixa quantidade de HIV no sangue da pessoa.
No mundo, 47% das pessoas que vivem com HIV tem carga viral indetectável. Esse estudo alerta para a importância de se manter o tratamento, pois os medicamentos são os responsáveis pela queda nos níveis de carga viral, que apesar de indetectáveis, devem continuar sendo monitorados regularmente.
Tratamento e prevenção
De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, 92% das pessoas em tratamento no Brasil já atingiram o estágio de estarem indetectáveis. Esse número se deve ao acesso promovido pelas Secretarias e o Ministério da Saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Além do tratamento, o SUS ainda garante estratégias e tecnologias mais avançadas para a prevenção da infecção pelo vírus, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).
PrEP e PEP são usados na prevenção do HIV, sendo a PrEP para casos onde a pessoa não tem o vírus, mas corre alto risco de contraí-lo e a PEP é indicada para pessoas com suspeita de infecção, devendo ser administrada em até 72h para impedir que o retrovírus se espalhe pelo corpo.