Amazônia: mesmo com queda de 24% no desmatamento, em janeiro, índice é terceiro pior em 16 anos

O objetivo, agora, é trabalhar para evitar a perda de 7.562 quilômetros quadrados que estão sob risco, área cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo (Araquém Alcântara/WWF-Brasil)

17 de fevereiro de 2023

20:02

Iury Lima – Da Agência Amazônia

VILHENA (RO) – O primeiro mês de 2023 trouxe um alívio para a maior floresta tropical do planeta. Com 198 quilômetros quadrados devastados apenas em janeiro, a redução observada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) foi de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Ainda assim, a situação é de alerta, pois a destruição equivale à perda diária de 640 campos de futebol; o terceiro pior índice para o período desde 2008.

De acordo com a série histórica de alertas de desmatamento do Imazon, o desmate em janeiro deste ano só perdeu para os valores registrados, nessa mesma época, em 2015 e 2022. Em ambos os casos, mais de 250 quilômetros quadrados de floresta foram a baixo em 31 dias.

Apesar da queda, para a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos, ainda é muito cedo para comemorar. “Nós estamos num ritmo de devastação muito alto, num patamar semelhante ao dos últimos anos”, alertou.

Devastação ocorrida no primeiro mês de 2023 só perdeu para os índices de 2015 e 2022, segundo O Imazon (Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

Mato Grosso lidera

Dos nove Estados que integram o território da Amazônia Legal, Mato Grosso foi o que mais derrubou vegetação. Só no Estado, a perda foi de 85 quilômetros quadrados no último mês, 43% da destruição total da região. Mato Grosso não só liderou, como também desmatou mais do que em janeiro do ano passado, quando 73 quilômetros quadrados se perderam devido ao crime ambiental. Por isso, a alta foi de 16%. 

Além disso, cinco dos dez municípios amazônicos que mais destruíram a floresta ficam em Mato Grosso, responsáveis por 62% de toda a devastação ocorrida no Estado. 

Bianca Santos ressalta que Mato Grosso, que abriu a largada do desmatamento em 2023, vem ocupando as primeiras posições do ranking há, pelo menos, 15 anos, ao lado do Pará e do Amazonas. “Isso se deve, em grande parte, ao fato de o Estado estar localizado em uma região de fronteira agrícola, com uma grande presença da atividade agropecuária e uma grande conversão de floresta em pasto”, explica a pesquisadora. 

“Metade dos dez municípios que mais concentraram desmatamento, em janeiro, ficam no Estado, dois que, inclusive, estão na lista do Ministério do Meio Ambiente de municípios que necessitam de ações prioritárias de combate e controle ao desmatamento, que são os municípios de Feliz Natal e Querência”, alertou ainda.

Mato Grosso abriu a largada do desmatamento da Amazônia, em 2023, com quase a metade da destruição verificada pelo Imazon (Marcos Vergueiro/Secom-MT)

Outros Estados

Roraima foi outro Estado onde houve aumento do desmatamento: 116% em relação a janeiro de 2022. Com 19 quilômetros quadrados derrubados, foi o segundo que mais desmatou a Amazônia neste início de ano: 21% do total observado na região.

“O Estado de Roraima foi responsável pelo maior aumento de áreas desmatadas dentro dos Estados da Amazônia Legal, em janeiro”, destaca Santos que complementa:

“Esse avanço foi para além de imóveis privados, sendo registrado também dentro de áreas protegidas, como Unidades de Conservação (UC) e Terras Indígenas (TI), o que coloca em risco não só todo o patrimônio biológico preservado nesses territórios, mas também a vida e a cultura de povos e comunidades tradicionais, como indígenas, ribeirinhos, quilombolas e extrativistas. É necessário olhar com bastante atenção para esses territórios, dentro do Estado, para que o que ocorreu na Terra Indígena Yanomami (TIY) não se repita em outros locais”, conta a especialista.

Roraima ficou em segundo lugar, em área desmatada, mas foi o Estado que mais registrou aumento nos índices de desmatamento em comparação com janeiro de 2022 (Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

Degradação

Além das áreas desmatadas, o Imazon também monitora o tamanho do estrago causado pela degradação da floresta, que ocorre quando uma parte da mata sofre com danos causados pela exploração madeireira ou pelo fogo.

Em janeiro de 2023, a Amazônia Legal teve 15 quilômetros quadrados afetados pelo problema, área igual à registrada no ano anterior. Pará foi responsável pela maior parte, 73%, seguido por Mato Grosso (13%), Rondônia (7%) e Roraima (7%).

Desafio pela frente

Coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia, do Imazon, Carlos Souza Jr. alerta que mesmo com “redução positiva em relação a 2022”, o cenário se mostra preocupante e desafiador, pois conforme o sistema de monitoramento, nos últimos seis meses, a Amazônia já perdeu mais de 4 mil quilômetros quadrados, ou seja, 36% do total de 11.805 quilômetros quadrados estimados pela plataforma de inteligência artificial do instituto, a PrevisIA, para o desmatamento em 2023.

Segundo a previsão da IA, essa área de floresta pode ser destruída até o mês de julho deste ano, a contar de agosto de 2022, período que compreende o chamado calendário do desmatamento. O objetivo, agora, é trabalhar para evitar a perda de 7.562 quilômetros quadrados que estão sob risco, área cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo. 

“Por isso, precisamos ter máxima agilidade e efetividade no aumento das fiscalizações e das punições aos desmatadores ilegais, priorizando as áreas sob maior risco de devastação”, afirma o pesquisador.

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Por fim, a pesquisadora Bianca Santos aponta o que deve ser feito para tornar a redução do desmatamento uma realidade cada vez mais constante. “Para isso, é necessário que sejam mantidas e replicadas as ações de fiscalização, como as que já vêm acontecendo, desde o início do ano, na Terra Indígena Yanomami, por exemplo”, citou.

“É muito importante, também, que esse auxílio chegue a outras áreas protegidas que já vêm sendo afetadas por invasões ilegais de grileiros e garimpeiros. E, somente a fiscalização, não será suficiente. Para reduzir essa destruição, é necessário atrelar essas ações a punições contra o desmatamento ilegal, por meio da aplicação de multas e embargos”, finalizou a pesquisadora.