Autônomos foram os mais prejudicados pela pandemia em 2020, diz Ipea

A pesquisa, que analisa o impacto da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho, aponta diminuição na renda de autônomos e outros profissionais (Guilherme Oliveira/Revista Cenarium)

09 de abril de 2021

18:04

Marcela Leiros

MANAUS – Os trabalhadores por conta própria foram os mais prejudicados em termos de queda de rendimento no ano passado em decorrência da pandemia, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nessa quinta-feira, 8. Eles receberam apenas 76% da renda habitual no segundo trimestre de 2020 e, no quarto trimestre, atingiram 90%.

A pesquisa, que analisa o impacto da pandemia de Covid-19 no mercado de trabalho, aponta ainda diminuição na renda de outros profissionais. Os dados foram calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesta realidade, a autônoma Márcia Gomes, de 46 anos, viu a renda familiar diminuir drasticamente durante o período de restrição das atividades não essenciais no Amazonas. Ela, que trabalha com costura criativa, precisou fechar o ateliê onde trabalhava para não gastar mais com aluguel e viu o rendimento da família reduzir a menos da metade do habitual.

Márcia Gomes trabalha com costura criativa e viu rendimento da família reduzir na pandemia (Reprodução/Arquivo pessoal)

“O ateliê foi fechado em maio de 2020, não tinha cliente e não podíamos abrir porque não era atividade essencial. Então, comecei a fazer máscara aqui em casa. Trouxe tudo da loja para casa, teve vezes que não tinha alimento o suficiente, não tinha renda, mas tinha que pagar carro, luz, água, internet. Chegaram a cortar nossa energia em meados de agosto. Antes da pandemia, tirávamos cerca de R$ 4.500 somando a renda do ateliê e do trabalho do meu marido, que atua como Uber, mas teve mês que só conseguimos R$ 300 no total”, contou a autônoma.

O ateliê foi transferido para a residência da autônoma (Reprodução/Arquivo pessoal)

De acordo com Márcia Gomes, a esperança era de que as coisas melhorassem, mas então veio o segundo pico da Covid-19. “Meu marido ganhava muito bem fazendo Uber antes da pandemia, mas, a partir da segunda onda, caiu muito. Antes ele tirava uma média de R$ 300 reais por dia, agora às vezes dá para tirar 150, mas ainda tem a gasolina. Na segunda onda, a venda das máscara caiu um pouco, e ele [o marido] não trabalhou do dia 1º ao final de fevereiro”, destacou ela.

Outros profissionais

Ainda conforme o estudo, os trabalhadores privados sem carteira, por sua vez, receberam 87% da renda habitual no segundo trimestre e 96% no quarto trimestre de 2020. A análise da renda efetiva nos três últimos meses do ano passado indica que ela caiu inclusive entre os trabalhadores privados com carteira (-1,4%) e os do setor público (-0,2%), chegando a 6,7% de redução para aqueles por conta própria.

De acordo com a economista Denise Kassama, houve um impacto na atividade econômica como um todo, e muitas atividades precisaram se adequar ao cenário restritivo, sendo que as que dependiam de aproximação com clientes foram as mais prejudicadas.

“As atividades que tiveram êxito na adequação foram as que puxaram os indicadores para cima. Entretanto, profissionais que exerciam atividades, que geram algum tipo de aproximação, foram os que mais demoraram a se recuperar. É o caso de diaristas, profissionais da estética, motoristas de condução escolar e outros cuja atividade não é passível de desenvolver de forma remota, não tiveram rendimentos no período crítico da pandemia”, destacou a vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon).