Com crise hídrica, Brasil pode ter mais um aumento na taxa de energia elétrica

Em julho, conta seguirá com taxa mais elevada (Folhapress/Lucas Ruiz)

28 de junho de 2021

15:06

MANAUS – Na última sexta-feira, 25, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que vai haver um novo aumento da taxa no mês de julho. Segundo o órgão, o acréscimo tarifário é em razão da intensidade da estação seca nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN), registrando condições hidrológicas desfavoráveis.

Embora o novo reajuste ainda não tenha sido divulgado, o diretor-geral da Aneel, André Pepitone, disse na semana passada que a bandeira vermelha patamar 2 terá reajuste acima de 20% e adiantou que o valor deve ser maior do que o divulgado em março. Na ocasião, a proposta era elevar a cobrança de 100 kWh na bandeira vermelha 2 para R$ 7,571. A informação foi antecipada pelo jornal O Globo.

Atualmente, as bandeiras tarifárias são divididas em três fases: verde, quando há condições favoráveis para a geração de energia e não há necessidade de cobrança adicional; amarela, quando as condições tornam-se menos favoráveis e a tarifa passa a sofrer um acréscimo a cada quilowatt-hora (kWh) consumido; e vermelha, quando a produção de energia é mais custosa e a tarifa sofre um acréscimo maior. 

Taxas cobradas atualmente (Arte: Catarine Hak/Revista Cenarium)

Aperto

Para o economista Marcus Evangelista, esse aumento afeta diretamente o bolso do brasileiro, “O item energia é um dos que mais afetam o orçamento doméstico das famílias. Quando ocorrem essas mudanças de bandeiras, o reflexo ocorre diretamente na qualidade de vida das pessoas, pois, para pagar o aumento, deixam de gastar em outras contas”, ressaltou.

Evangelista ainda alertou que o caminho para economizar é o uso consciente de energia, além de utilização de todas as estratégias possíveis para que a redução do consumo possa compensar essas oscilações das bandeiras, até que elas possam cair.

Para o economista Ailson Rezende, a crise hídrica nas regiões Sul e Sudeste levaram o sistema integrado de energia a colocar as termoelétricas para gerar mais energia e, consequentemente, acarretam um custo maior nesta geração.

“As concessionárias de energia foram obrigadas e estabelecerem a cobrança da bandeira vermelha dupla nas contas de energia. Dessa forma, é importante e necessário o controle para evitar o desperdício e o uso consciente da energia elétrica”, completou.

Crise Hídrica

No início do mês de junho, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), em uma conversa com apoiadores no Palácio do Alvorada, alertou para a crise hídrica que o Brasil enfrenta e disse ainda que o País vive a maior crise hídrica de sua história. O governo descarta, neste momento, a possibilidade de racionamento de energia, mas uma campanha para alertar a sociedade sobre o “uso consciente” de energia elétrica e de água está sendo criada.

Horário de verão

Em abril de 2019, o horário de verão foi cancelado pelo atual presidente da República Jair Bolsonaro. Na ocasião, ele disse que a medida não gerava mais economia, e que afetava o relógio biológico da população. Ele levou em consideração uma pesquisa do Ministério de Minas e Energia dizendo que 53% dos entrevistados se declararam insatisfeitos com a ideia de adiantar o relógio em uma hora.

Um dos principais motivos para a adoção do horário de verão, segundo o Ministério de Minas e Energia, era garantir o melhor aproveitamento da energia solar em relação à energia elétrica. O Brasil economizou pelo menos R$ 1,4 bilhão desde 2010 por adotar o horário de verão. Segundo os números já divulgados, entre 2010 e 2014, o aproveitamento da luz do sol resultou em economia de R$ 835 milhões para os consumidores.

A especialista em economia Denise Kassama explica a relação entre os dois casos. “O horário de verão, embora incômodo para muitos brasileiros, conseguia reduzir o consumo de energia em cerca de 4,5% na demanda de energia nos horários de pico. Pode até não ser muito, mas com certeza ajudaria alguma coisa”, ressaltou.

Segundo ela, as crises hídricas estão cada vez piores e como não há mudança nos hábitos de consumo de energia, nem de cuidados ao meio ambiente, tudo aponta continuidade nas próximas estações. “A falta de investimentos públicos na geração de outros tipos de energia para minimizar os impactos do setor hidrelétrico também não tem ocorrido nas dimensões necessárias. E a conta acaba sobrando para nós, que pagamos uma energia cara e com apagões”, finaliza Kassama.