Educação especial para indígenas ainda é lacuna no Mato Grosso, diz professor Balatiponé

Crianças indígenas em sala de aula (Reprodução/Agência Brasil)

09 de fevereiro de 2024

01:02

Davi Vittorazzi – Da Agência Cenarium

CUIABÁ (MT) – As crianças e os jovens indígenas que vivem em Mato Grosso não têm, até hoje, um programa curricular voltado para a cultura dos povos originários nas escolas públicas. O professor e vereador indígena Lennon Ferreira Corezomaé, 33, avalia que esta lacuna deve ser mais uma das pautas pela luta dos direitos dessas populações.

Atualmente, Corezomaé está no primeiro mandato de vereador em Barra do Bugres (a 166 quilômetros de Cuiabá). Ele pertence ao povo Balatiponé, do Território Indígena (TI) Umutina, localizado no mesmo município. Na análise do parlamentar, houve uma estagnação dos direitos dos indígenas no Estado. 

“As políticas que nós temos acompanhado e visto são mais de assistencialismo do que, realmente, projetos de leis ou programas a nível estadual que estruturam a educação escolar indígena, que deem voz à educação específica, diferenciada, respeitando a cultura e o modo tradicional indígena”, explica à AGÊNCIA CENARIUM.

Professor Lennon é vereador em Barra do Bugres (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O parlamentar relata, ainda, ausência de uma educação especial ou mesmo formação pedagógica para professores que trabalham com alunos indígenas, bem como a existência de um modelo específico para que os estudantes dessa população sejam avaliados. 

A educação específica se enquadra em mais umas das pautas pelos direitos indígenas. Na quarta-feira, 7, foi celebrado o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas. A data foi instituída em 2008 para relembrar a morte da liderança guarani Sepé Tiaraju, considerado símbolo de resistência da luta pela terra e pelos costumes.

Prejuízo à manutenção de costumes

Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Mato Grosso tem uma população de 58.231 indígenas nas quatro regiões do Estado. Lennon Corezomaé, que também é mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), aponta que a falta de uma educação específica prejudica a manutenção dos costumes dos povos originários.

“A população indígena está presa aos programas de regulação do não indígena, que são os mesmos para todas as escolas. Acaba não considerando a questão indígena, quilombola ou ribeirinha”, afirma o professor.

Indígena em sala de aula (Vanessa Beltrame/Acnur)

O educador também avalia que, nos últimos anos, o Conselho Estadual de Educação Indígena tem perdido força. “Não tem acontecido os fóruns a nível estadual para escutar a população indígena e formar documentos que orientem políticas públicas“, diz.

Desafios para as futuras gerações

Eleito e exercendo a função de vereador, Lennon pontua que as gerações mais novas devem ocupar os espaços de poder para garantir direitos a nível local e até federal. O parlamentar vê esses ambientes como uma forma de buscar ser a representação que, muitas vezes, é ausente. 

“Conseguir conquistar esses demais espaços e as demais pessoas para daí, sim, começar a formar políticas diferenciadas, a construir programas diferenciados”, acrescenta, reforçando a necessidade da presença de indígenas nos Poderes Legislativos e Executivos.

“Eu acredito que se organizando, a gente consegue alcançar essa missão, mas ainda precisa se construir dentro dos vários povos indígenas a consciência e união política da população indígena, pois também temos que lidar com as velhas artimanhas dos velhos políticos”, completa o vereador.

Leia mais: Patrono da educação, por que Paulo Freire ainda incomoda tanta gente?
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Adriana Gonzaga