Em meio a recorde de desemprego, governo federal trava transferência da LG para o Amazonas

Brasil atingiu 14,4 milhões de desempregados, e o governo federal travou a transferência da LG para Manaus (Reprodução/Internet)

30 de abril de 2021

15:04

Matheus Pereira

MANAUS – Na mesma semana em que o Brasil atingiu 14,4 milhões de desempregados, o governo federal travou a transferência da LG Electronics de Taubaté (SP) para Manaus. Mesmo com a aprovação dos membros do Conselho de Administração da Suframa (CAS), o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, retirou da pauta da reunião o projeto de ampliação da unidade de Manaus com as linhas de notebook e monitores que serão encerradas em São Paulo.

Dados divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta sexta-feira, 30, mostram que o país tem o maior número de desempregados desde 2012. Os 14,4 milhões de desempregados correspondem ao trimestre de dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, crescendo 2,9% (mais 400 mil pessoas desocupadas) em relação ao trimestre de setembro a novembro de 2020 (14,0 milhões de pessoas).

Diretrizes desatualizadas

Especialistas explicaram que quando um projeto segue para ser aprovado no CAS, significa que ele já foi analisado por dois técnicos da Suframa, um economista e um engenheiro, que avaliaram e emitiram um parecer, informando da viabilidade técnica do empreendimento. O processo de análise é bastante rigoroso, obedecendo a legislação vigente. Ao pedir a retirada do projeto, o secretário não considerou todo o processo de análise da Suframa.

Carlos da Costa ponderou que a retirada do projeto não significa a rejeição do mesmo, mas “um esforço para entender melhor as circunstâncias que fizeram com que um número tão baixo de empregos seja gerado por um volume tão alto de investimentos dos recursos do contribuinte”.

Jair Bolsonaro Paulo Guedes Carlos Alexandre da Costa
Carlos da Costa ao lado do ministro Paulo Guedes durante pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (Reprodução/Facebook)

Rentabilidade

Segundo o economista Orígenes Martins, na mesma reunião foram aprovados outros projetos e o aspecto negativo desta reunião foi exatamente o fato de não analisarem o projeto da LG, que traria a produção de bens de alta tecnologia para o polo de Manaus. “Infelizmente ainda levam em conta a relação rentabilidade versus resultado social (geração de empregos), esquecendo que a indústria moderna está cada vez mais automatizada. Não se pode deixar para trás a evolução tecnológica e neste ponto houve uma falha nesta reunião do CAS”, afirmou.

Os especialistas explicam que o valor alto no investimento se justifica pelo fato de que produtos de alta tecnologia envolve investimentos em maquinários igualmente tecnológicos e automatizados, já que o mundo caminha para a indústria 4.0. O projeto tem previsão de investimento de R$ 325 milhões e a expectativa era que 68 novos postos de trabalho fossem criados.

Orígenes aponta que a retirada do projeto da pauta é teoricamente legal, pelo fato de as diretrizes da Suframa levarem em conta a geração de empregos como fator essencial para análise de um projeto e sugere a atualização do modelo. “Por este motivo que eu questiono a necessidade de modernização das diretrizes. Não podemos nos atrasar em uma área tão ágil como a tecnologia. Muitos modelos industriais se acabaram exatamente pela incompetência de não seguir a tecnologia”, afirmou.

Repercussão

O vice-presidente da Câmara Federal e deputado pelo Amazonas, Marcelo Ramos (PL), usou as redes sociais para se posicionar sobre a decisão do representante do Ministério da Economia e afirmou que o entrave causa grande prejuízo à Zona Franca de Manaus (ZFM), aos empregos dos amazonenses e à economia do Amazonas.

“Nós não vamos aceitar esse tipo de provocação com a zona franca de Manaus. Todos os conselheiros aprovaram a aprovação do projeto e o senhor Carlos Costa retirou na marra como se não existisse o povo do Amazonas, como se não existisse empregos para os nossos amazonenses no período de pandemia e de tanto sofrimento. O Amazonas não pode esperar mais nenhum dia para ter esses novos investimentos, que vão gerar mais empregos, renda e vão desenvolver a nossa região”, rebateu o deputado.

Vice-presidente da Câmara Federal, Marcelo Ramos usou as redes sociais para se manifestar sobre a decisão do governo (Reprodução/Twitter)

Por sua vez, o deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) classificou como “nefasta” a atitude do secretário. “Preciso registrar o absurdo cometido ontem pelo secretário Carlos Costa, representando o ministro Paulo Guedes, em mais uma agressão nefasta contra a Zona Franca de Manaus. O projeto da LG tramitou, seriam empregos gerados aqui, seria ICMS gerado aqui, seria uma nova atividade econômica, e ele defendendo os interesses de São Paulo retirou de pauta o projeto sem nenhuma razão”, disse Serafim durante discurso em sessão da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).