Entidades indígenas lamentam mortes de esposa e enteadas de ex-presidente da Funai

Rosita e filhas (à esquerda); Sydney Possuelo. (Reprodução)

06 de setembro de 2023

14:09

Marcela Leiros – Da Agência Amazônia

MANAUS – A morte da esposa e de duas enteadas do ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o sertanista Sydney Possuelo, na tarde dessa terça-feira, 5, causou comoção em entidades que lutam pelos direitos dos povos originários. Rosita Mascarenhas Watkins, 64, e Karla Mascarenhas Watkins e Michelle Mascarenhas Watkins sofreram um grave acidente de carro na BR-020, em Goiás. Uma criança, de 10 anos, foi o único sobrevivente da tragédia.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), organização que representa os povos indígenas da Terra Indígena Vale do Javari, localizada em Atalaia do Norte, no Amazonas, e que tem profunda ligação com a família, afirmou que a morte das vítimas é uma perda irreparável.

A entidade lembrou que Rosita foi uma grande apoiadora dos povos indígenas, em especial, dos habitantes do Vale do Javari, e que contribuiu de maneira inestimável com a Univaja. Foi Possuelo quem demarcou os territórios indígenas Yanomami e Vale do Javari, quando esteve à frente da Funai. Ele também criou o Departamento de Indígenas Isolados na instituição.

Junto ao seu marido, Sidney Possuelo, Rosita contribuiu de maneira inestimável para a Univaja. Sua sensibilidade, dedicação e profundo entendimento da cultura e dos desafios enfrentados pelos povos indígenas a tornaram uma grande aliada e defensora. Seu legado de solidariedade e apoio às comunidades indígenas permanecerá como uma fonte de esperança e inspiração para todos nós“, consta na nota da organização.

Nota de pesar da Univaja (Reprodução/Instagram)

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) publicou, no Instagram, nota de pesar lembrando que o casal recebeu o líder e ex-coordenador do conselho, Jacir José de Souza, em sua residência, em Brasília, em fevereiro deste ano, como “gesto de gratidão e apoio à luta dos povos indígenas de Roraima“, especialmente da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Nota publicada pelo CIR. (Reprodução/Instagram)

Por fim, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também manifestou pesar. Em nota, a presidenta da instituição, Joenia Wapichana, afirmou que a perda de Rosita é inestimável. “Rosita era amiga de todos. Recebeu a gente na casa dela com amigos. Tinha a consideração de me ligar perguntando se eu estava bem, e dizia que podia contar com eles. Sempre foi muito atenciosa e solidária“, disse.

Rosita esteve com Joenia, pela última vez, em 28 de julho de 2023, em um evento convocado pelo Cacique Raoni Metuktire, na Aldeia Piaraçu (MT), em que ocorreu o anúncio da aprovação dos estudos de Identificação e Delimitação da Terra Indígena (TI) Kapôt Nhĩnore, localizada nos Estados do Pará e Mato Grosso.

Intitulado “Chamado de Raoni”, o evento promoveu a defesa dos direitos dos povos indígenas no Brasil, buscando estabelecer uma plataforma unificada de reivindicações em defesa de seus direitos territoriais, culturais e ambientais.

Acidente

Rosita, Karla e Michelle morreram após o carro em que elas estavam bater de frente contra um caminhão que vinha na direção oposta na BR-020, e que levava uma carga de algodão. O neto de Rosita, um menino de 10 anos, estava no banco traseiro do carro no momento da batida e não sofreu lesões graves, segundo o Corpo de Bombeiros. Ele foi levado até a cidade de Formosa, a poucos quilômetros de distância, para receber atendimento médico.

O motorista da carreta, que tem 34 anos, não se feriu. Aos bombeiros, ele disse que seguia em direção à cidade de Formosa no momento do acidente, enquanto o veículo de passeio seguia rumo à Bahia.

Editado por Eduardo Figueiredo
Revisado por Gustavo Gilona