Etnia Sateré-Mawé denuncia omissão de Distrito Sanitário Especial Indígena em barreira de proteção no AM

Donos de uma cultura milenar, os Sateré-Mawé estão receosos com o contágio pela Covid-19 nas aldeias (Reptodução/EditoraMundo e Missão)

08 de junho de 2020

16:06

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

Em meio à vulnerabilidade da Covid-19, índios da comunidade Sateré-Mawé denunciaram a omissão do Distrito Sanitário Especial Indígena  (Dsei), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, diante da barreira sanitária que impede a entrada de não índios, na aldeia Andirá-Marau, localizada entre os municípios de Barreirinha e Maués (a 330 quilômetros e 276 quilômetros, respectivamente, da capital).

Segundo Josias Sateré-Mawé, uma das lideranças da etnia, a barreira sanitária é a união das prefeituras de Barreirinha e de Maués, a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o Dsei- Parintins, com as lideranças que estão na aldeia.

“Lutamos tanto nas décadas de 1980 e 1990 para termos a saúde indígena e o que nós temos hoje é a Sesai. Aí vem o Dsei dizer que a ordem de serviço havia encerrado, com isso criou-se rumores de que eles iriam deixar, em definitivo, a barreira sanitária. Isso nos preocupa e muito. A questão é que a Sesai cuida da saúde dos índios, mas é a Funai que tem poder de política e polícia”, disse.

Orgão sucateado

O líder indígena aproveita para traçar um panorama da dura realidade das populações tradicionais frente aos órgãos ligados ao Governo Federal que deveriam protegê-las.

 “A Funai está sucateada e não tem sequer como manter o prédio em Parintins que se encontra abandonado, com números de funcionários reduzidos. Agora, imagina como manter esses funcionários na barreira sanitária? Se acontecer de contaminarem o povo Sateré-Mawé, se esse vírus entrar, a responsabilidade recairá sobre a Sesai, que está fazendo de tudo para manter o povo Sateré protegido”, afirmou. 

Realinhamento

O coordenador do Dsei em Parintins, José Augusto Nenga, refutou as acusações das lideranças indígenas. “Fizemos uma reunião com a equipe da Funai e estamos aqui alinhando um plano de trabalho para o Dsei voltar a atuar na barreira sanitária”, explicou.

Ainda segundo Nenga, não houve decisão unilateral. “Quero deixar bem claro que o Dsei não tirou barreira sanitária nenhuma. A barreira é comandada pela Funai. Nós apenas encerramos nossa atividade”, observou.

O coordenador do Dsei Parintins ainda completou a informação. “A previsão inicial era que ficássemos trinta dias e ficamos mais de sessenta. A própria ordem de serviço da Funai também foi encerrada e foi renovada agora”, destacou. Um funcionário da Funai já está na barreira e ele ficará lá até o dia 16 de junho”, antecipou.

José Augusto afirmou que dentro das novas ações do Dsei está o monitoramento fluvial. “O Dsei está se preparando para voltar, inclusive estamos fazendo um trabalho de manutenção no ‘Funasão’ [barco], porque caso o Dsei retorne, trabalharemos no ‘Funasão’, que é um barco bem maior”, finalizou.

Documento de lideranças indígenas, repudia a retirada do Dsei da área indígena Sateré-Mawé (Reprodução/Divulgação)

Mortes de indígenas disparam

As mortes de indígenas infectados pelo novo Coronavírus aumentaram de 28 no fim de abril para 182 em 1º de junho, segundo dados da Articulação de Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Na última terça-feira, 2, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) disse estar muito preocupada com o índice de contágio entre populações indígenas da Amazônia.

O médico Douglas Rodrigues disse temer pelas tribos do Estado do Amazonas, onde nenhum município do interior tem unidades equipadas com ventiladores mecânicos.  “No Amazonas, são pessoas com a morte decretada, porque não conseguem ser removidos a tempo”, afirmou.