Instituição amazônica reserva vagas em mestrado com ‘ações afirmativas’ para negros, indígenas e mulheres

O Inpa busca sintonia com os povos da floresta e o ensino científico. (Reprodução/Internet)

26 de março de 2021

17:03

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) abriu, no início do mês, vagas de ‘ações afirmativas’ no edital de seleção para mestrado. Das 18 vagas, seis estão reservadas para grupos que representam o extrato social brasileiro e amazônico. São duas vagas para pretos, pardos e quilombolas, duas para indígenas e duas para estudantes de universidades da região amazônica. As inscrições podem ser realizadas no endereço eletrônico do Inpa.

O edital foi lançado no dia 10 de março, as inscrições vão até o dia 10 de abril. Por conta da pandemia as provas serão online. Os interessados devem preencher os campos exigidos e enviar a documentação no formato online. Para não deixar dúvidas, todos os detalhes podem ser conferidos no edital disponível na internet.

Uma vez aprovados, o ingresso está previsto para junho de 2021. Outro ponto positivo é a inclusão de mulheres em condição de maternidade. Mães com filhos de até cinco anos disputam em total concorrência, no entanto, terão calculado diferenciação de produção científica, com nota final da seleção multiplicada por 1,1.

Diminuir desigualdades

A proposta da instituição é dar visibilidade, representatividade e reduzir desigualdades a grupos em programas de pós-graduação. A ideia é trabalhar, identificar, estimular a capacitação de recursos humanos originários da região amazônica.

O PPG-Ecologia, por exemplo, possui cursos de mestrado e doutorado e é o único do Estado do Amazonas e um dos poucos da região Norte com avaliação 6 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Essa posição é estratégica porque cursos com notas 6 e 7 possuem padrão de excelência de nível internacional.

“Sendo a natureza do programa o estudo da ecologia da Amazônia, nada melhor que trazer ao curso as pessoas que cresceram na Amazônia, principalmente os indígenas. O conhecimento acumulado dos povos indígenas é de valor imensurável”, destacou a coordenadora do PPG-Ecologia, a pesquisadora Noemia Ishikawa.

Diferencial

Para a cientista, as políticas de inclusão podem ser um diferencial. “Acredito que, se tivermos a maior presença dos indígenas, negros, quilombolas e mulheres mães no programa, diminuindo a desigualdade social que temos, isso só virá a somar. Inclusive, acredito fortemente que essas ações poderão ajudar a PPG-Ecologia do Inpa a conquistar o nível sete de excelência”, completa.

A ideia de reduzir espaços e criar pontes entre o Inpa e a sociedade amazônica partiu da comissão de seleção, presidida pela pesquisadora Fernanda Werneck. Fernanda é mãe de uma adolescente e levantou bandeira pelas mães cientistas do Brasil. Werneck integra o ‘Parent in Science’, organização formada por cientistas que promovem em todo o País, a discussão sobre a maternidade e a carreira acadêmica.

“Os desafios adicionais que cientistas mães enfrentam para avançar com suas pesquisas se tornaram ainda maiores durante a pandemia, portanto, iniciativas que visem apoiar o ingresso na pós-graduação e progressão acadêmica de mães são ainda mais evidentes neste momento de pandemia”, observou Fernanda.

Atitudes inclusivas

Fernanda Werneck acredita que atitudes inclusivas podem gerar qualidade na produção científica egressa do Inpa. “As ações propostas certamente contribuirão para o incremento da qualidade científica por meio de um maior acolhimento de pessoas com experiências e visões diversas”, finalizou.

As provas de conhecimento em ecologia e de suficiência em língua estrangeira serão realizadas no dia 13 de maio, às 8h30 e às 15h, respectivamente. A previsão de divulgação do resultado final com a lista de candidatos aprovados é dia 11 de junho, no site da Pós-Graduação do Inpa.