Profissionais LGBTQIAPN+ movimentam economia criativa no AM

Estudo aponta que o Amazonas tem 185 profissionais LGBTQIAPN+ que movimentam a economia criativa (Arte: Mateus Moura/Agência Amazônia)

21 de junho de 2023

13:06

Luciana Santos – Especial para Agência Amazônia**

MANAUS – Uma pesquisa realizada pelo DJ e produtor cultural Ravi Carvalho Veiga fez um levantamento sobre os profissionais LGBTQIAPN+ que atuam na economia criativa no Amazonas. O trabalho, apresentado como requisito para obtenção do título de especialista em gestão e produção cultural pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), verificou a existência de 185 profissionais criativos, como DJs, compositores, produtores musicais, cantores, designer de moda, fotógrafos (as), ilustrador, designer gráfico, produtores culturais, atores, atrizes, bailarinos, voguers, dentre outros. A sigla LGBTQIAPN+ abrange Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexuais, Pansexuais, Não-binários e outras identidades e orientações que podem ser incluídas no “+”

Conhecer esse cenário é importante para a formulação de políticas públicas de incentivo, em um setor da economia com potencial para a geração de emprego e renda. Além disso, há o aspecto da inclusão de indivíduos pertencentes a um grupo que ainda encontra barreiras no mercado de trabalho formal fundadas em preconceitos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero. A importância da formalidade dos negócios criativos LGBTQIAPN+, inclusive, é ressaltada na pesquisa, pois muitos ainda não possuem Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), de Microempreendedor individual (MEI), nem o registro de Microempresa (ME).

DJ e produtor cultural Ravi Carvalho Veiga durante apresentação (Reprodução/Instagram)

A pesquisa também demonstra que a Economia Criativa LGBTQIAPN+ no Amazonas possui profissionais com mais de 40 anos de experiência e empresas com mais de dez anos de existência. Dentre esses empreendimentos com mais tempo, o trabalho destaca os bares administrados por mulheres lésbicas em diferentes bairros de Manaus. E, entre os profissionais como mais anos de carreira, Ravi cita o estilista Bosco Fonseca, com atuação desde a década de 1970. Conhecido como “Arroz” e primeira Rainha Gay de Manaus, Fonseca é também o autor do livro “Um Bar Chamado Patrícia’’, obra em que conta a história do local onde o movimento gay do Amazonas têm início.

O mapeamento também revela que, em Manaus, a área da marcenaria criativa, móveis planejados e Design Industrial está sendo liderada por mulheres lésbicas e bissexuais. Um exemplo é a empresa “A Marcenaria Sustentável’’, que transforma paletes em móveis funcionais e sustentáveis, trabalhando com uma gestão focada em lixo zero e destinando os resíduos de madeira para novos processos produtivos.

A economia criativa LGBTQIAPN+ conta ainda com feiras e festivais. Segundo Ravi Veiga, a própria pesquisa nasce durante a produção do projeto de Artes Integradas ‘’Miga Sua Lôca’’. Ele lamenta não existir um observatório que possa coletar os dados desse segmento da economia e cita como exemplo positivo a experiência do observatório do Turismo e Eventos da cidade de São Paulo com a Parada do Orgulho LGBT e outros eventos que movimentam milhões de reais.

“Temos um exemplo de alto nível de como a Prefeitura de São Paulo passou a visualizar um dos maiores eventos da cidade, a Parada do Orgulho LGBT. Não se interessou apenas em apoiar a causa. Mas observou que a Parada realizada uma vez ao ano, é uma fonte de triplicação de dinheiro, além de não apenas mover o setor de entretenimento e direitos humanos, mas move o turismo local. Isso faz com que aumente o PIB da cidade. Quem sabe o Amazonas também possa ter esse olhar investidor para os eventos LGBTQIAPN+ realizados na cidade”, diz o pesquisador, que defende que os eventos realizados em Manaus em Maio (Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia) e em Junho (Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+) passem a integrar o calendário de eventos da cidade.

A pesquisa “Economia criativa LGBTQIAPN+ no Estado do Amazonas: um levantamento dos profissionais atuantes no mercado local” em breve estará disponível no repositório da Universidade do Estado do Amazonas para consulta pública. Termino ressaltando a importância da divulgação da produção científica, principalmente de pesquisadores pertencentes a grupos subalternizados. Dar visibilidade a esses saberes é tarefa e compromisso contra-colonial.

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(*) Luciana Santos jornalista e advogada, mestre em Direito Constitucional, especialista em Direito Público, Direitos Humanos e em Processo Civil, Africanidades e Cultura Afro-brasileira e possui MBA em Marketing e MBA em Gestão empresarial.

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