Destaque na luta pelos direitos indígenas no Brasil, deputada Joênia Wapichana confirma presença na COP 26
31 de outubro de 2021
15:10
Gabriella Lira – Da Cenarium
MANAUS – Um dos nomes de destaque na luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil, a deputada Joênia Wapichana (Rede/RR) confirmou, nesse sábado, 30, presença na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), em Glasgow, na Escócia. A participação da primeira mulher indígena eleita deputada federal do País no evento era incerta, já que ela havia feito um pedido à comissão responsável pela participação dos representantes do Brasil no evento, mas não tinha obtido resposta.
Joênia participará da primeira semana da conferência mundial, no período de 3 a 7 de novembro. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), informou aos deputados que pretende conduzir a comitiva à COP 26. Segundo ele, ao menos dez parlamentares estavam autorizados para a viagem. O nome de Joênia não constava na lista, mas, entre os selecionados, estava a deputada federal Carla Zambelli, que não cumpre a regra principal do evento para entrar no Reino Unido: estar vacinada.
Wapichana foi eleita deputada federal em 2018 com 8.491 votos, em Roraima, após 190 anos de parlamento no Brasil. A deputada ocupa hoje uma das oito cadeiras do Estado na Câmara dos Deputados. Para celebrar a conquista, a parlamentar realizou, na quinta-feira, 28, a live “1.000 Dias de Mandato Indígena”.
“É um dia muito importante para a nossa vida, para a minha, particularmente. Ser a única representante indígena nunca me deixou com o sentimento de que eu estaria sozinha, mas com o povo indígena, seja com o meu povo de Roraima ou o de Brasília”, destacou a deputada Joênia Wapichana.
A parlamentar salientou que o propósito da candidatura dela é dar voz aos povos tradicionais no Congresso Nacional, em defesa dos interesses e direitos indígenas. “É um mandato que veio furar essa ‘bolha’ que não nos deixava entrar numa representação que é tão importante para todos do Brasil, uma representação política. Eu sempre pensei que o verdadeiro sentido da política é construir propostas para melhorar a condição de vida das pessoas. É nesse sentido que trabalhamos em prol dos direitos coletivos indígenas”, reforçou a parlamentar.
Primeira deputada indígena
Natural da comunidade indígena Truaru da Cabeceira, região do Murupu, município de Boa Vista, Joênia Wapichana, de 47 anos, pertence ao povo indígena Wapichana, o segundo maior povo do Estado de Roraima. Ela também é primeira mulher indígena a se formar em Direito no Brasil, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). Em 2008, também foi a primeira advogada indígena da história a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). O discurso ocorreu na homologação que definiu os limites contínuos da Reserva Raposa Serra do Sol.
Além de advogada e deputada federal, Joência Wapichana é mestre pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Com uma atuação pautada na defesa dos direitos dos povos indígenas, do meio ambiente e sustentabilidade, a roraimense conquistou espaços internacionais. Entre 2001 a 2006, Joênia participou das discussões sobre a Declaração dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de onde recebeu, em 2018, o Prêmio de Direitos Humanos, um dos mais importantes do mundo.
No Congresso Nacional, a deputada federal tem sido protagonista ao levantar pautas que tratam sobre os direitos indígenas de todo o País, abordando temas como importância de consulta prévia a povos indígenas e comunidades tradicionais, o enfrentamento da Covid-19, além de ir contra projetos de leis e propostas de emenda à constituição do governo Bolsonaro, como a PEC da Reforma Administrativa, apelidada de “PEC da Rachadinha”, e a Tese do Marco Temporal.
A COP 26
A COP é a principal cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), que debate questões que tratam da ação humana ao meio ambiente. Um dos alvos principais do cronograma de debates é o efeito negativo das políticas energéticas atuais, que incluem a queima de fontes de energia fóssil e emissões de gases que provocam o efeito estufa, contribuindo diretamente no aquecimento global.
O evento engloba várias conferências, com muitas reuniões paralelas que atraem pessoas do setor empresarial, empresas de combustíveis fósseis, ativistas do clima e outros grupos com interesse na crise climática. Os líderes mundiais devem comparecer ao evento, mas muitas das discussões acontecem entre ministros e outras autoridades de alto nível que trabalham com questões climáticas.
Leia também: CENARIUM na cobertura da COP 26; conheça a importância ambiental do evento para o mundo