Em ofícios, Univaja denunciou aumento de invasões no Vale do Javari em abril deste ano

Nos textos, são relatadas as invasões, o clima de insegurança e ameaça no Vale do Javari, além de solicitarem proteção contra os infratores (Reprodução/Comando Militar da Amazônia)

11 de junho de 2022

22:06

Bruno Pacheco e Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) divulgou na noite deste sábado, 11, documentos que mostram a organização denunciando, em abril deste ano, o aumento intenso de invasões na Terra Indígena Vale do Javari, no interior do Amazonas, região onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips estão desaparecidos desde domingo, 5.

Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, preso na terça-feira, 7, por suspeita de envolvimento no sumiço do ativista e do jornalista aparece em relatório da organização indígena como um dos homens responsáveis pelas invasões e como “autor de diversos atentados de arma de fogo” na Terra Indígena Vale do Javari, de acordo com ofício da Univaja datado de 12 de abril deste ano.

O documento foi endereço à Frente de Proteção Etnoambiental e à Coordenação Regional do Vale do Javari, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e à Força Nacional de Segurança Pública em Tabatinga.

Noite do dia 03/04, quando a EVU [Equipe de Vigilância da Univaja] estava finalizando suas atividades, chega a informação que o “Pelado”, morador da Comunidade São Gabriel e de Benjamin Constant, estava com outros 4 ou 5 infratores pescando no interior da terra indígena, próximo à aldeia Korubo, no Mário Brasil. Eles estariam de canoa pequena, no lago do Bananeira, na margem direita do Rio Ituí, pescando peixe liso e pirarucu. “Pelado” tem sido apontado como um dos autores dos diversos atentados com arma de fogo contra a Base de Proteção da Funai, entre 2018 e 2019”, denunciou a Univaja, em trecho do ofício.

Parte do ofício formulado pela União dos Povos Indígenas (Reprodução/Univaja)

Mapeamento

No documento, a União dos Povos destacou que, com a cheia dos rios Ituí e Itaquaí, o aumento do “egresso dos infratores foi constatado pela EVU em campo” e por representantes da entidade em Atalaia do Norte. “Milhares de tracajás e tartarugas e toneladas de carne de caça e de pirarucu chegaram até a sede municipal”, descreveu a organização indígena ao relatar a invasão.

Segundo a Univaja, em 15 de março de 2022, foram mapeadas cinco embarcações pesqueiras de grande porte, nas proximidades da Base de Proteção da Funai, na boca do Rio Ituí, sendo três delas entre a Comunidade São Rafael e a base.

Nos primeiros dias de trabalho da EVU na floresta (inundada e de terra firme), foram mapeadas diversas estradas para embarcações de médio porte (canoas motorizadas, sem tolda, de 9 a 12m e com capacidade de carga de, aproximadamente, 5 toneladas) cortando de cima para baixo o igapó que separa a Base de Proteção da Funai do lago do Jaburu, fora da terra indígena”, continuou a Univaja em outro trecho do ofício.

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Vestígios

O documento mostra uma série de relatos, vestígios e materiais usados pelos invasores na região. Uma das invasões foi observada no mês de março, quando uma outra equipe de infratores, em embarcação de médio porte, foi vista na terra indígena. Os suspeitos, no entanto, conseguiram despistar a Univaja no igapó do Jaburu e fugir.

“Os vestígios são registrados e georreferenciados e as informações que circulam nas comunidades próximas à terra indígena é que essa equipe seria comandada pelo “caçula”, morador de Atalaia e filho do servidor aposentado da Funai conhecido como “Patola”, reforçou a organização.

O documento apresenta uma série de relatos e mostra vestígios e materiais usados pelos invasores (Reprodução/Univaja)

Veja o ofício na íntegra:

Outros ofícios

Além dos documentos datados do mês de abril, outros cinco ofícios também foram formulados pela União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja) e destinados a órgãos como Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai), Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) e ao Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM).

Nos textos, são relatadas as invasões, o clima de insegurança e ameaça no Vale do Javari, além de solicitarem proteção contra os infratores. No documento com data do dia 6 de maio de 2022, por exemplo, a União dos Povos Indígenas aborda a localização dos infratores dentro e fora das Terras Indígenas Vale do Javari.

Trazemos neste ofício informações atualizadas da equipe de vigilância da Univaja sobre invasores de nosso território”, informa o ofício detalhando nomes, apelidos, embarcações e ponto de atuação dos invasores.

Parte do ofício formulado pela União dos Povos Indígenas (Reprodução/Univaja)

Relembre o caso

As buscas por Bruno e Phillips completaram neste sábado, 11, seis dias de operações. O indigenista e o jornalista desapareceram após receberem ameaças em campo, segundo a União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja).

A organização afirma que Bruno Pereira era ameaçado constantemente por sua atuação contra invasores na região: pescadores, garimpeiros e madeireiros. Já Dom Phillips, apaixonado pelo Brasil, era conhecido por reportagens denunciando as violações dos direitos dos indígenas e vinha trabalhando em um livro sobre meio ambiente.

Na quinta-feira, 9, a Justiça decretou a prisão temporária do suspeito pelo desaparecimento, Amarildo de Oliveira, o “Pelado”, após a perícia da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) encontrar vestígios de sangue na embarcação dele.

Clique nos links para ler os ofícios na íntegra:

Ofício 004/ Unijava/ 2022

Ofício 043/ Univaja/ 2022

Ofício 029/ Univaja/ 2022

Ofício 034/ Univaja/ 2022

Ofício 044/ Univaja/ 2022

Ofício 047/ Univaja/2022