Em semana de discurso de Bolsonaro na ONU, desmatamento na Amazônia já é o maior dos últimos 15 anos

Jair Bolsonaro (Arte:Mateus Moura)

23 de setembro de 2022

14:09

Bruno Pacheco – Da Agência Amazônia

MANAUS – Em meio à semana em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) acusou a imprensa de mentir sobre o aumento do desmatamento da Amazônia, na abertura da 77ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque (EUA), dados do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) do Imazon mostram que a destruição da floresta na região atingiu o maior índice nos últimos 15 anos. Segundo o órgão, uma área de 7.943 quilômetros quadrados (km2) da vegetação foi derrubada nos oito primeiros meses deste ano.

(Arte: Imazon)

Num comparativo, a área de Floresta Amazônica destruída no período de janeiro a agosto de 2022 é quase cinco meses o tamanho da cidade de São Paulo, que tem 1,5 mil km² de território total. Somente no mês passado, 1.415 km2 foram desmatados na Amazônia. Os números assustam e confrontam as falas de terça-feira, 20, do presidente Bolsonaro na ONU, que aproveitou o momento para mentir.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro discursou na 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York (Timothy A. Clary/AFP)

“Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional”, declarou o presidente.

Ao contrário do que o mandatário proferiu, os números do Imazon revelaram a alta quantidade de área derrubada na Amazônia. De acordo com o instituto, outro problema na região foi a degradação florestal causada pela extração de madeira e pelas queimadas, que cresceu 54 vezes em relação ao mesmo mês do ano passado. “A área degradada passou de 18 km², em agosto de 2021, para 976 km², em agosto de 2022”, apontou o Imazon.

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Ainda conforme mostram os dados do SAD, os Estados que mais desmataram no mês de agosto foram Pará, 647 km2 de floresta destruída, Amazonas (289 km2) e Acre (173 km2). A soma das três regiões chega a 78% do total de desmatamento registrado em 2022.

Ameaça na Amazônia

“Além de ameaçar diretamente a vida de povos e comunidades tradicionais e causar perdas na biodiversidade, esse aumento na destruição também afeta a camada de ozônio e contribui para o aquecimento global em um momento de emergência climática”, alertou o instituto.

Entre os Estados da Amazônia com maior degradação florestal no mês de agosto, o destaque é para Mato Grosso, 657 km2 de floresta degradada, seguido pelo Pará (240 km2) e Acre (28 km2).

Desmatamento e degradação

O Imazon destaca que o desmatamento é classificado quando a vegetação é totalmente removida, o chamado “corte raso”. Já a degradação florestal ocorre, para o instituto, quando parte da mata foi retirada por causa da extração de madeira ou, até mesmo, afetada pelo fogo. “É comum que uma área classificada como degradada seja posteriormente desmatada”, pontua.