Gravuras rupestres são encobertas com pigmento por artista em Manaus; Iphan se manifesta

Gravuras rupestres reaparecidas com a estiagem do Rio Negro na cidade de Manaus (Valter Calheiros/Reprodução)

25 de outubro de 2023

23:10

Adrisa De Góes – Da Agência Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – As gravuras rupestres que reapareceram no sítio arqueológico das Lajes, às margens do Rio Negro, em Manaus, foram encobertas com pigmento pelo artista plástico e historiador Otoni Mesquita. Os registros foram publicados nas redes sociais pelo perfil Manaus de Antigamente e apagados após internautas questionarem a ação.

“As postagens sobre a técnica de pigmentação com produto natural, nos grafismos do Parque das Lajes, com fim de registro fotográfico, foram apagadas. Pedimos desculpas e reconhecemos o nosso erro em publicar”, diz comunicado nos stories do perfil, que possui mais de 83 mil seguidores e retrata a história antiga da capital do Amazonas.

Em uma das imagens, o artista segura um objeto similar a um pincel e uma das gravuras aparece destacada em tons brancos. À AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA, Mesquita explicou que a intervenção foi feita com um pigmento natural e de forma temporária. Após o registro fotográfico, o local foi lavado e o pigmento retirado.

O artista plástico e historiador Otoni Mesquita no local onde gravuras rupestres reapareceram com a estiagem na Ponta da Lajes (Reprodução/Redes Sociais)

“Isso que eu usei foi caulim, que é uma areia da beira do rio e que foi misturada com água. É algo que se utiliza na arqueologia para fazer o contraste, fazer o registro. Eu fui para fazer o registro e para fotografar. Não íamos postar. De nenhuma forma íamos incentivar outras pessoas a fazer algo com tintas industriais. Era apenas para registro histórico”, explicou Otoni.

Iphan se manifesta

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) se manifestou sobre o caso por meio de nota divulgada na noite desta quarta-feira, 25, no site oficial. Para o órgão, ações de intervenção em bens arqueológicos, sem a devida autorização, são passíveis de responsabilização junto à Justiça.

“Todos os bens arqueológicos pertencem à União, sendo que a legislação veda qualquer tipo de aproveitamento econômico de artefatos arqueológicos, assim como sua destruição e mutilação. Além disso, para realização de pesquisas de campo e escavações, é preciso o envio prévio de projeto arqueológico ao Iphan, que avaliará e, só então, editará portaria de autorização. Assim, qualquer pesquisa interventiva realizada sem autorização do Iphan é ilegal e passível de punição nos temos da lei”, diz trecho da nota.

O Iphan também informou que procurou os órgãos competentes para evitar possíveis danos aos bens arqueológicos e acionou a Polícia Federal (PF), o Batalhão de Polícia Ambiental e a Secretaria Municipal de Segurança Pública para realizar patrulhas na área, a fim de impedir eventuais danos ao Patrimônio Cultural do País.

Gravuras rupestres

Pedras de até 2000 anos, com figuras de rostos humanos esculpidos, puderam ser vistas em paredes rochosas às margens do Rio Negro desde que os níveis da água desceram a patamares recordes, nesta que é a pior estiagem da região em mais de cem anos.

As gravações foram avistadas pela primeira vez em 2010, ano em que a seca também foi histórica para o Estado. Desta vez, foi possível ver uma extensão maior das gravuras.

Gravuras rupestres que reapareceram na cidade de Manaus após seca histórica (Valter Calheiros/Reprodução)

Atualmente, o Iphan executa um plano de ação cujo objetivo é pesquisar e cadastrar sítios arqueológicos no Estado do Amazonas, a fim de produzir conhecimento sobre o Patrimônio Arqueológico da região amazônica.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga