Piranhas que atacaram banhistas em Manaus migraram em busca de alimento, diz especialista

Oito pessoas ficaram feridas em ataque de piranhas, em balneário na Zona Oeste de Manaus (Reprodução)

02 de maio de 2023

21:05

Adrisa de Góes – Da Agência Amazônia

MANAUS – Um ataque de piranhas deixou oito pessoas feridas em um balneário localizado no bairro Tarumã-Açu, Zona Oeste de Manaus, nesta segunda-feira, 1°, durante o feriado do Dia do Trabalhador. A maioria das vítimas sofreu lesões nos pés enquanto tomava banho no igarapé. O espaço é cenário de lazer, principalmente, aos finais de semana, quando recebe dezenas de famílias, entre adultos e crianças. Especialista afirma que a espécie (serrasalmus rhombeus) pode ter sido atraída para o local em busca de alimento.

À AGÊNCIA AMAZÔNIA, o proprietário do local confirmou o ataque e disse que foi a primeira vez que um incidente desta natureza foi registrado. “Foi um caso à parte”, afirmou o responsável, que preferiu não se identificar à reportagem.

Ataque de piranhas ocorreu no Tarumã-Açu, Zona Oeste de Manaus (Reprodução/Facebook)

O mestre em Aquicultura Jean Mendes afirma que as características do local, como águas escuras e presença de peixes pequenos, podem ter sido fatores que atraíram o cardume. O especialista acredita que as piranhas migraram para a área em busca de alimento, uma vez que outros ataques ainda não haviam sido registrados.

“Onde elas habitam, dificilmente, têm outros peixes, a não ser que sejam outros carnívoros também. Pelo que percebo, elas migraram para este local, vieram de algum local que, certamente, já não havia mais alimentos para elas. Onde têm peixes pequenos, a presença delas é mais comum (…) é um peixe carnívoro, agressivo e tem dentes e mandíbulas muito fortes”, disse Mendes. “Essa [foto abaixo] habita mais água preta, se confirma pela cor da água do ataque. As de águas barrentas apresentam uma coloração pigmentada em vermelho”, complementou.

Especialista afirma que piranha capturada após ataque, em balneário, é comum em águas escuras (Reprodução)

Ainda de acordo com o aquicultor, as piranhas são capazes de sentir a presença de animais ou quaisquer movimentos a longas distâncias, assim como sangue, que pode ser detectado em 200 litros de água, o que as ativa fisiologicamente e as ordena ao ataque. “[As piranhas] atacam para se alimentar e para se defender, sempre em grupos, e elas possuem um sincronismo no ataque. Não mastigam, são devoradoras mesmo”, explica o especialista, que ressalta que os ataques podem aumentar em épocas de reprodução. “Protegem a prole como uma mãe protege o filho”, destaca.

Caso isolado

À REVISTA CENARIUM, o responsável pelo estabelecimento atribuiu o incidente aos banhistas que estariam “jogando comida” na água enquanto pescavam. Para evitar novos casos, o proprietário garantiu que irá adotar medidas de segurança.

“Estamos trabalhando para solucionar o caso. Isso não é rotineiro, foi a primeira vez que aconteceu, mas a gente crê que foi devido a algumas pessoas terem jogado comida na água e estarem pescando. Vamos colocar redes, criar uma barreira protetora e colocar orientações para não acontecer mais isso”, assegurou.

O mestre em Aquicultura afirmou ainda que, enquanto seres carnívoros, as piranhas podem ser atraídas por alimentos como carne vermelha ou até vísceras de outros peixes. Entretanto, ele ressalta que restos de comida como arroz, macarrão ou outros tipos de carboidratos não atraem o paladar da espécie. “Carnes com sangue e o famoso bucho do peixe são atrativos”, pontuou.

Susto

A estudante de psicologia Adaiany de Sousa Monteiro foi uma das vítimas do ataque e ficou ferida na região do calcanhar. Ela conta que estava há cerca de 30 minutos dentro da água, quando sentiu algo semelhante a um choque.

“Senti um impacto no meu pé, eu pensava que era um poraquê, que tinha passado e me dado um choque, eu não imaginava que fosse uma mordida de piranha. Quando eu saí da água, eu verifiquei que tinha um buraco no meu pé e eu logo associei à piranha”, afirmou a vítima, que apesar do susto, disse que ficou no local até o fim da tarde.

À reportagem, a estudante afirmou que relatou o ocorrido a funcionários do balneário, mas não recebeu assistência.

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